Dissidência entre os donos e os gestores não familiares;

Reflexões sobre Empresas Familiares
Dissidência entre os donos e os gestores não familiares
Quando se pensa numa empresa familiar, associa-se quase sempre a ideia de que estas organizações são lideradas por uma pessoa da família proprietária.
Esta presunção é suportada pela constatação de, na maioria das situações, o fundador ou um dos seus descendentes assumirem o rosto do timoneiro do negócio: seja por via de uma liderança única, ou pela condução de uma equipa de gestão, onde também normalmente prevalecem as ligações familiares.
O crescimento do negócio, a especialização da empresa ou a inexistência ou indisponibilidade de pessoas da família aptas para assumir a sua liderança, são alguns justificantes que levam uma sociedade familiar a nomear um elemento externo à família para assumir a sua direção geral ou presidência.
A decisão que leva a esta situação, ainda pouco comum nos negócios familiares, para ser bem sucedida deve ser devidamente ponderada e planeada, pois a sua envolvente particular irá exigir que:
• a família, por um lado, terá de se preparar para liderar com gestores profissonais; isto é, para selecionar, contratar, definir objetivos, acompanhar, dar apoio, remunerar, premiar e, quando e se oportuno, substituir;
• o gestor, na sua perspetiva profissional, terá de ser hábil na condução do negócio e, em especial, na gestão das potenciais interferências da família na empresa.
A continuidade futura da sociedade dependerá muito da capacidade de equilíbrio desta ligação família e gestor, pelo que não pode ser deixada à deriva de potenciais humores dos seus intervenientes.

Em 2004 Luís Palha da Silva foi eleito presidente executivo da Jerónimo Martins. O grupo de distribuição estava a regressar do enorme e insucedido investimento no Brasil, os filhos de Alexandre Soares dos Santos ainda não estavam devidamente preparados para assumir as rédeas do conglomerado, em especial no difícil contexto em que se encontrava, pelo que a opção por um gestor independente, com o perfil adequado à mudança exigida, foi uma solução consensual.
No grupo desde 2001, como CFO, sabia que ao aceitar esta nomeação iria ter pela frente um enorme desafio: definir uma nova estratégia para o negócio e implementar a mesma contando, na sua equipa de gestores, com dois dos filhos do presidente do Conselho de Administração.
Em 2010, a direção executiva da empresa regressa às mãos da família. O filho de Soares dos Santos – Pedro -, então com 50 anos, assume as rédeas do negócio e a responsabilidade da consolidação e continuidade da expansão internacional do grupo.
O reconhecimento pelo excelente papel desempenhado por Luís Palha, neste período de transição de liderança familiar, pode ser vislumbrado pela sua manutenção no Conselho de Administração assumindo dois de três comités: o de acompanhamento de Matérias Financeiras e o comité da Responsabilidade Corporativa, sendo o terceiro - Avaliação e Nomeações, da responsabilidade de Alexandre Soares dos Santos.

Temas para reflexão:
• A nossa empresa poderia ser liderada por uma pessoa independente da família?
• Que vantagens esta situação proporcionaria à empresa e à família?
• A nossa família saberia lidar com uma gestão profissional não familiar do negócio?


António Nogueira da Costa
Especialista em Empresas Familiares
antonio.costa@efconsulting.es
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Especialistas na consultoria a Empresas Familiares
e elaboração de Protocolos Familiares
Santiago – Porto   www.efconsulting.pt
 

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