Lisboa é a segunda maior cidade do mundo em nómadas digitais
Lisboa tem-se afirmado nos últimos anos como um dos destinos mais populares para nómadas digitais em todo o mundo. Entre 2021 e 2023, o número de nómadas digitais em Lisboa cresceu cerca de 75%, refletindo a crescente atração da cidade para trabalhadores remotos de todo o mundo.
Em 2023, a capital portuguesa destacou-se como o segundo destino mais procurado globalmente, com aproximadamente 120 mil nómadas digitais a escolherem Lisboa como base temporária, atrás apenas de Bali, Indonésia, que lidera com cerca de 130 mil nómadas digitais.
Este crescimento deve-se a vários fatores que tornam Lisboa um destino atrativo: o custo de vida relativamente acessível comparado com outras capitais europeias, a segurança, o clima ameno durante todo o ano, uma cena cultural vibrante, excelente gastronomia, e uma infraestrutura digital moderna, com uma boa oferta de espaços de coworking e uma crescente comunidade de empreendedores. Além disso, a hospitalidade dos portugueses e a facilidade de comunicação em inglês contribuem para o crescente apelo da cidade entre os trabalhadores remotos.
O Porto, a segunda maior cidade de Portugal, também tem registado um crescimento notável no número de nómadas digitais. Entre 2021 e 2023, o número de nómadas digitais no Porto aumentou cerca de 40%, com a cidade a acolher aproximadamente 40 mil a 50 mil nómadas digitais em 2023. A combinação do seu charme histórico, custo de vida acessível, e uma cena cultural em expansão continua a atrair trabalhadores remotos, embora em menor escala do que Lisboa.
Visto para nómadas digitais é atrativo adicional
Para atrair ainda mais nómadas digitais, Portugal lançou recentemente o Visto para Nómadas Digitais, que permite aos trabalhadores remotos viver e trabalhar no país por até um ano, com possibilidade de renovação. Este visto está disponível para estrangeiros que trabalhem remotamente fora de Portugal, exigindo que os candidatos comprovem um rendimento mensal mínimo de cerca de 2820 euros (cerca de três vezes e meia o salário mínimo português) e apresentem contrato de trabalho, comprovativos de rendimentos, ou evidência de trabalho como freelancer para empresas estrangeiras. Este regime visa captar talento internacional, proporcionando uma opção legal e flexível para os nómadas digitais que desejam residir em Lisboa.
Impacto positivo na economia da cidade
A presença de nómadas digitais em Lisboa tem trazido vários benefícios para a economia local. Em média, um nómada digital gasta cerca de 1500 a três mil euros por mês em alojamento, alimentação, transportes, lazer e outros serviços, o que representa uma injeção direta na economia local. Além disso, muitos nómadas digitais são freelancers ou empreendedores, que colaboram com empresas locais, participam em eventos de networking e estimulam o ecossistema de startups e inovação da cidade.
Os nómadas digitais também ajudam a dinamizar o mercado imobiliário e de coworking, promovendo a reabilitação de edifícios, o surgimento de novos espaços de trabalho compartilhados e a revitalização de áreas menos centrais da cidade. Em 2023, estima-se que o impacto direto e indireto dos nómadas digitais na economia de Lisboa tenha sido superior a 100 milhões de euros, incluindo o aumento do consumo em restaurantes, comércio local e serviços de turismo.
Preço das rendas sobe em comparação com outras cidades europeis
O aumento da popularidade de Lisboa entre os nómadas digitais e expatriados tem tido um impacto notável no mercado imobiliário. Nos últimos cinco anos, as rendas em Lisboa cresceram aproximadamente 45%, colocando a cidade entre as capitais europeias com o maior aumento no custo de habitação. Atualmente, o valor médio de arrendamento de um apartamento T2 em Lisboa ronda os 1500 euros por mês, enquanto o salário médio líquido na cidade é de cerca de 1100 euros por mês. Isto significa que o custo de arrendamento de um apartamento pode representar mais de 130% do salário médio, tornando a habitação significativamente onerosa para muitos residentes locais.
Para efeitos de comparação, em cidades como Berlim e Barcelona, o aumento das rendas foi também expressivo, com um crescimento de cerca de 40% e 35% nos últimos cinco anos, respetivamente. No entanto, em Berlim, o salário médio líquido é de aproximadamente 2400 euros por mês, e o custo médio de arrendamento de um apartamento T2 é de 1200, representando cerca de 50% do salário médio. Em Barcelona, o salário médio é de 1800 por mês, com um custo médio de arrendamento de 1400, o que equivale a cerca de 78% do salário médio.
Em comparação, cidades como Paris e Amesterdão também enfrentam rendas elevadas, mas o peso das rendas em relação ao salário médio é geralmente menor do que em Lisboa. Em Paris, o custo médio de arrendamento de um apartamento T2 é de cerca de 1700 euros e o salário médio líquido é de 2800 euros, representando aproximadamente 61% do salário médio. Em Amesterdão, o arrendamento de um T2 custa em média 1600 euros, enquanto o salário médio líquido é de 2500 euros, correspondendo a cerca de 64% do salário médio.
Paulo Caiado, presidente da APEMIP, considera que “as rendas estão altas em todo o lado, especialmente em Lisboa. A principal explicação para este fator prende-se com a escassez de oferta perante o elevado número de pessoas que necessitam de arrendar uma casa. Os imóveis só são arrendados por um valor que, de algum modo, perante este cenário de escassez, as pessoas estão dispostasa pagar. Claro que, nos últimos anos, diria nestes últimos seis anos, a oferta de baixo valor disponível na cidade de Lisboa foi integralmente absorvida. Quando vão surgindo casas, perante múltiplos interessados, os preços previsivelmente têm esta tendência de aumentar”.
Câmara de Lisboa disponibiliza bolsa de 146 apartamentos
Para responder às dificuldades que o mercado de arrendamento coloca às famílias que não conseguem enfrentar os elevados custos da habitação no concelho, o atual executivo da Câmara Muninipal de Lisboa aprovou em 2022 um programa urgente que tornou, pela primeira vez, universal e acessível o arrendamento habitacional em Lisboa: o município suporta uma parte das rendas quando estas representam mais de 30% do rendimento das famílias através do o subsídio municipal ao arrendamento acessível.
“Em 2024 chegámos a cerca de 1500 famílias apoiadas e em 2023 alargámos as regras para incluir os profissionais deslocados, em particular os professores, mas também enfermeiros ou polícias, que estavam um impedidos de se candidatar; e alargámos também àqueles que procuram arrendamento de quarto”, afirmou à “Vida Económica” fonte do executivo municipal. “Todos os que se candidatam a este apoio, desde que enquadrados nas regras, obtiveram o apoio solicitado”, acrescentou.
Segundo a mesma fonte, “em 2024/2025 o município irá continuar a apoiar o arrendamento e, noutra frente, continuará a lançar concursos de habitação com renda acessível, sendo de destacar que atualmente está aberto o concurso nº 25 que disponibiliza uma bolsa de 146 apartamentos de diversas tipologias, incluindo 29 T0 e 44 T1 tendo em vista apoiar os profissionais deslocados em Lisboa”.
Escassez de oferta sobe valor das rendas
“Há muito tempo que os valores das rendas em cidades como Lisboa estão desfasados, não estão em sintonia, com a generalidade dos rendimentos das famílias. Tanto está desfasado o valor de uma renda de 1500 euros, como está uma renda de mil euros, tendo em conta os rendimentos médios da população portuguesa. Estes preços especialmente elevados, em Lisboa e no Porto, fizeram com que haja novos fluxos de procura noutras localizações, não só nos subúrbios como em outras periferias, mais afastadas, onde os preços também estão a subir”, acrescenta.
“Só vamos inverter esta tendência quando tivermos oferta suficiente de imóveis para arrendar. Neste momento os imóveis que vão surgindo no mercado no segmento de valor mais baixo são absorvidos quase de imediato. Quanto mais tempo demorar a implementação de medidas que gerem um aumento significativo da oferta, maior será a exclusão habitacional provocada pela subida de preços”, conclui.
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