Aveleda exporta mais de 15 milhões de garrafas para 75 países;

Martim Guedes destaca crescimento sustentado da empresa
Aveleda exporta mais de 15 milhões de garrafas para 75 países
Martim Guedes: “A Aveleda disponibiliza habitação a uma parte dos colaboradores mantendo a tradição de comunidade com forte ligação à empresa”.
A Aveleda atingiu, este ano, um novo recorde de produção com 22 milhões de garrafas –refere Martim Guedes. Em entrevista à “Vida Económica”, o co-CEO da Aveleda destaca o ritmo de crescimento sustentado da empresa. Em 10 anos foi duplicada a produção, aumentada a área de vinhas, e alargada a atividade a várias regiões vitivinícolas.
Para Martim Guedes a meta,até 2025, passa por atingir uma faturação na ordem dos €53 milhões, para um total de 23 milhões de garrafas vendidas, reforçando a identidade da empresa e valorizando o seu legado no setor dos vinhos.
Vida Económica - Qual tem sido a evolução da produção e das exportações da Aveleda?
Martim Guedes - A nossa produção atual é  22 milhões de garrafas. Há 10 anos atrás produzimos cerca de 14 milhões de garrafas, e em 2020 atingimos 20 milhões de garrafas. Tivemos um aumento grande nos últimos anos no que são os nossos vinhos e não foi apenas na região dos vinhos verdes. A produção cresceu com o aumento da área de vinhas . Em 2014 tinhamos 118 hectares de vinhas e éramos já o maior viticultor da região e hoje temos 450 hectares de vinhas, o que é imenso.
Mesmo assim, as nossas vinhas abastecem um terço das necessidades. Os outros 2/3 vêm sobretudo de parcerias com produtores locais, com viticultores. Nós compramos uvas a cerca de 2000 viticultores, e cada vez mais concentramos os fornecimentos no nosso  o Clube Produtores, com contratos de longo prazo, numa lógica de parceria estreita.
 
VE - Do total de 22 milhões de garrafas qual é a componente de exportação?
MG - Temos estado numa proporção estável ,com  cerca de 1/3 para o mercado nacional, e 2/3 para o mercado de exportação. O mercado externo continua a ser o nosso principal mercado visto como um todo, sobretudo da marca Casal Garcia, que é uma marca que exporta com muito sucesso, ao ser aquela que tem o maior peso em termos de exportações.
O  mercado doméstico com um terço é o maior, mas logo a seguir vêm mercados como os Estados Unidos, o Brasil ou a Alemanha, que são três mercados muito importantes para a companhia. Temos mais 75 mercados muito mais pequenos, onde realizamos o resto das vendas.
 
VE -  O preço médio de venda dos produtos tende a aumentar, com mais valor acrescentado?
MG - Temos conseguido acompanhar a inflação, apesar de alguma incerteza nos últimos anos.  
Já temos um preço superior ao preço médio de Espanha. Também é superior ao preço  médio do Chile, África do Sul ou Austrália e, portanto, nós não estamos na cauda. Trabalhamos os preços, mas não temos os preço de França, de Itália, que tem uma perceção de qualidade e um histórico diferente do nosso país.
É evidente que nós ainda queremos acompanhar esse caminho e temos trabalhado muito com as nossas marcas quer no vinho verde, quer no Douro, onde temos uma componente forte de uma gama premium que que é recente para nós, mas que tem crescido a ritmos interessantes e já tem mais peso no nosso negócio.
 
Práticas de sustentabilidade com certificação B Corp 
 
VE - A sustentabilidade  faz parte da estratégia da Aveleda?
MG - Eu diria que hoje em dia usamos muito a palavra sustentabilidade. Durante estes mais de 150 anos de história tivemos sempre respeito pela natureza, e respeito pelas pessoas. É uma noção que tem que estar sempre presente na história da empresa.
A última novidade que temos neste aspeto foi a certificação B Corp que certifica as nossas práticas sustentabilidade que vão desde a biodiversidade às pessoas na pegada de carbono, passando por muitas outras vertentes. É uma certificação muito completa em todos os domínios da sustentabilidade. Foi um processo exigente concluído em agosto no qual  temos muito orgulho.
 
VE - A disponibilização de habitação a uma parte dos empregados  também se inclui na vertente da sustentabilidade? 
MG - Sim, claramente. A continuidade desta prática para nós é importante. Portanto, não é uma prática nova, é uma prática que vem desde sempre, desde o início da empresa.
São casas nossas que são cedidas de forma gratuita aos colaboradores, mas também nos ajudam a guardar a propriedade e a manter a propriedade em bom estado. Temos hoje na empresa empregados que são da quarta geração de colaboradores, ou seja, já trabalhavam aqui os seus pais, avós, e bisavós.
Criamos aqui um conceito de comunidades únicas, que nascem dentro da gleba, literalmente, e que trabalham aqui durante toda a vida, porque são pessoas que sentem a empresa de uma forma muito particular, que tem uma ligação muito forte, com uma noção de família alargada. Portanto, acho que as casas têm tem um papel muito importante em fortalecer essa ligação 
 
VE - Estão a ser feitos novos investimentos?
MG - Temos um grande investimento de modernização de equipamentos e de alargamento  da capacidade produtiva. Envolve a receção de uvas, expansão da adega, linhas de engarrafamento e os armazéns de produto acabado. Felizmente, hoje vendemos mais do dobro do que vendíamos há 20 anos, com muito mais diversidade de produtos e, portanto, mais complexidade na operação.
E, portanto, isto é o que eu chamo um bom problema, porque resulta do crescimento da empresa e portanto vamos ter bastantes mudanças na nossa sede.
A vertente de enoturismo está muito centrada em Penafiel, onde está a casa da família, os jardins , os escritórios, e no centro produtivo e onde está a  parte mais interessante para visitar.
Mas nós temos mais algumas quintas espalhadas pelo país, de norte a sul e algumas delas com grande potencial de enoturismo. 
Temos um investimento que para nós é importante em Villa Alvor, no Algarve. É uma quinta que comprámos em 2019 para produzir vinhos do Algarve e que tem corrido bastante bem.
Vamos desenvolver um  projeto de turismo importante em Alvor, a quatro quilómetros do mar, numa quinta que tem vista para o mar, vista sobre o Alvor, vista sobre a serra de Monchique. É um local onde estamos a fazer excelentes vinhos e onde temos vistas que são espetaculares.



“O nosso grande desafio hoje em dia é a mudança  de uma empresa regional para empresa nacional que é líder da região dos vinhos verdes” – considera Martim Guedes.
A ambição é chegar a outras regiões e alargar a nossa pegada  Temos uma oferta de vinhos com todos os estilos de vinhos portugueses . Das nove regiões vitivinícolas que Portugal tem a Aveleda estás presente em cinco.” Com este portefólio conseguimos ter todos os estilos relevantes de vinho português e procuramos sempre fazer com a máxima qualidade possível. A nossa oferta de vinhos é completamente diferente do que era há 20 ou 30 anos atrás.
É um caminho de longo prazo que nós sabemos fazer e que acreditamos que é transformador. Esta empresa tem conseguido conciliar estes grandes investimentos com um crescimento de vendas” - afirma.
Entre os novos produtos, há a referir Casal Garcia Sangria e Casal Garcia Fruitzy. Martim Guedes salienta que estes novos produtos não são exatamente vinho, mas são muito procurados pelos novos consumidores e pelas novas gerações, dando resposta as tendências do mercado.

JOÃO LUÍS DE SOUSA joaoluisdesousa@grupovidaeconomica.pt, 16/09/2024
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