“Portugal corre o risco de se apagar numa integração ibérica”;

Paulo Rangel, vice-presidente do PPE, no International Club of Portugal
“Portugal corre o risco de se apagar numa integração ibérica”
Paulo Rangel frisou que Portugal deve ter uma política multilateral na União Europeia.
Sem qualquer sentido anticastelhano, Paulo Rangel, eurodeputado e vice-presidente do PPE, frisou que Portugal deve ter uma política multilateral na União Europeia, sob pena de correr o risco de se apagar numa integração ibérica. O país tem de adotar uma diplomacia de geometria variável para ter voz. As afirmações foram feitas no almoço-debate do Internacional Club of Portugal – ICTP, e onde o tema de fundo foi a “Europa e os equilíbrios globais”.
 
Na última parte da sua intervenção e ao elencar aquilo a que chamou de quinta linha de tensão, afirmou que “o Reino Unido nunca esteve com total boa-fé no contexto europeu. A desconfiança aconteceu desde o início e isso é uma tragédia geopolítica para a UE. O Reino Unido temperava imenso a França e a Alemanha”, para acrescentar que “quem representa a dimensão atlântica na UE é o Reino Unido. A nossa voz duplica muito com o Reino Unido”. Este país é fundamental “para os pequenos países marítimos e (esse papel) no caso de Portugal fica entregue a Espanha. (…) O ideal para o Reino Unido será haver um Estado na Ibéria que dominasse a costa ocidental atlântica e a definição de Portugal (em termos geoestratégicos) está ligado a isto”. Acrescenta Rangel que Portugal ficará integrado numa faixa atlântica e numa organização internacional sem o Reino Unido, algo que acontece pela primeira vez. Questiona-se sobre o que que Portugal deve dizer dentro da UE com as mudanças que vão acontecer com o Brexit. Portugal “corre o risco de fragilizar-se”. Necessita de uma “política de geometria variável. Portugal não é um país mediterrânico e Lisboa está no alinhamento de Nova Iorque, logo está no hemisfério norte”. Frisa que Portugal tem como grande falha a nível de política europeia “não estar no Clube Atlântico para defender uma posição própria contra o Brexit, com uma posição mais amiga do Reino Unido e em condições de melhor preparar o pós-Brexit. Paulo Rangel conclui que ou “Portugal tem uma política multilateral ou (corre o risco) de se apagar numa integração ibérica”. Deu o exemplo do sistema bancário nacional. E em jeito de remate final fez uma alegoria com a história de que “Portugal é uma ilha rodeada de mar e de Espanha por todos os lados”. 
Frisou, já no período de perguntas e respostas, que “os países periféricos atlantistas devem facilitar a vida ao Reino Unido com concessões mútuas que equilibrem a saída da UE. Ainda no período do debate, Rangel, questionado sobre o papel da Rússia na evolução da UE, frisou que a Rússia “é uma questão central. Não há Europa sem Rússia, embora possa existir a União Europeia sem a Rússia, esta faz parte da cultura europeia, para depois frisar que aquele país é ocidental e lembrou que Moscovo “é a terceira Roma e que o czar mais não é do que césar sem a vogal ‘e’”. Dentro de toda uma estratégia geopolítica, a Rússia “tem sido o grande agitador da vida europeia”, e dá exemplos do envolvimento com o Podemos em Espanha, o Syriza na Grécia ou a Frente Nacional que foi financiada por bancos russos. Lembrou que, aquando do referendo da Catalunha, cerca de 80% dos IP relativos à atividade online estavam sedeados em Moscovo e sem esquecer a eleição de Trump e a cumplicidade com a Rússia. Frisa que Putin “exerce bullying global” e deu o exemplo da Crimeia ou da Bielorrússia e lembrou, por último, a relação que diz ser “anti natura” entre Erdogan e Putin.
Vítor Castanheira, 03/10/2019
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