Empresas recorrem cada vez mais a especialistas de gestão externa;

Paulo Jorge, “managing partner” da EasyTalent e vice-presidente da AIM – Associação Interim Management, considera
Empresas recorrem cada vez mais a especialistas de gestão externa
“O ‘ínterim managment’ traduz-se na resposta ideal para as dificuldades atuais de contratação de profissionais muito qualificados”, afirma Paulo Jorge.
“O ‘interim management’ permite às empresas trazerem especialistas para liderar mudanças estratégicas ou projetos específicos”, seja por prazos curtos ou mais longos” – afirma Paulo Jorge, “managing partner” da Easy Talent e vice-presidente da AIM – Associação Interim Management.
“Diferentes momentos de mercado e/ou do ciclo de vida das empresas podem exigir a agilidade e a flexibilidade desta solução de gestão”, acrescenta Paulo Jorge.
Vida Económica - Como descreve o “interim management”? 
Paulo Jorge - O “interim management” é uma solução de gestão e uma ferramenta estratégica que se traduz numa forma de trabalho ágil e flexível, adequada para os profissionais séniores, em termos de experiência, qualificações e idade e para as empresas, sem os condicionalismos típicos da contratação tradicional e sem as especificidades da consultoria, tal como normalmente a concebemos. Em termos práticos, é a possibilidade de se ter acesso imediato ao chamado “talento on demand”, isto é profissionais com “expertise” numa determinada área, onde, quando e apenas durante o tempo estritamente necessário à execução de um determinado projeto. Traduz-se na resposta ideal para as dificuldades atuais de contratação de profissionais muito qualificados, que dada a sua experiência consolidada, estão habilitados a entrar nas empresas num dia e começar a contribuir e a executar logo no dia seguinte. É capacidade de gestão externa, a que é possível recorrer em todas as áreas de competência e da cadeia de valor de qualquer organização. 
 
VE - Para as empresas deve ser encarado como uma solução temporária ou permanente? 
PJ - Por definição, trata-se de uma solução temporária, no sentido que as missões de “interim management” têm um início, um meio e um fim, mas pode acontecer que o “fit” entre a empresa e o “interim manager”, e os resultados conseguidos, redundem num prolongamento da intervenção, no encaminhamento para outro projeto dentro da mesma empresa ou numa situação de contratação permanente. Temos que ter algum cuidado na utilização do termo “temporário”, porque poderá haver lugar a alguma confusão com o normal trabalho temporário. Por outro lado, em alguns mercados e em alguns “players” utiliza-se a expressão “interim management” para designar funções não executivas, razão pela qual em França, por exemplo, se faz a distinção entre “interim management”, para funções ditas normais e “management de transition”, para funções exclusivamente executivas e de gestão. Costumamos utilizar a máxima: “Gestores temporários, resultados permanentes, benefícios duradouros!”.
 
VE – Quais são os países e mercados onde o “interim management” é mais praticado? 
PJ - O “interim management” é amplamente praticado em países desenvolvidos, como a Holanda, Reino Unido, Alemanha, França, Itália ou Espanha. Nesses mercados, as empresas têm uma mentalidade mais aberta para contratar os chamados “interim managers” ou “consultores de implementação” para lidar com desafios específicos. O crescente interesse por essa prática também é observado noutros países da União Europeia, nos Estados Unidos ou no Brasil, impulsionado pela necessidade crescente de agilidade e flexibilidade nas organizações. 
 
VE - Pelo facto de haver um prazo definido no” interim managemen”t os resultados e objetivos podem ser mais rápidos em comparação com o recrutamento tradicional? 
PJ - Sim, o prazo perfeitamente delimitado definido no “interim management” leva geralmente a uma maior velocidade na obtenção de resultados. Os gestores interinos entram numa empresa com um objetivo claro, um plano de atividades bem definido e um cronograma específico, o que permite uma abordagem mais focada e direta. Além disso, esses profissionais trazem consigo experiência e conhecimentos especializados, o que pode acelerar sobremaneira o processo de resolução de problemas e a implementação das mudanças necessárias, em colaboração com as equipas residentes. Por outro lado, o seu único foco é o cumprimento dos objetivos acordados, sabem “meter a mão na massa”, são capazes de ir ao detalhe dos processos e jogam muito do seu prestígio e reputação profissional em cada missão. 
 
VE - Tendo em conta a atual tendência de redução do prazo médio dos cargos de gestão nas empresas, o “interim management” torna-se cada vez mais frequente mesmo no recrutamento que não é temporário? 
PJ - A tendência de redução do prazo médio nos cargos de gestão reflete a necessidade das empresas de se adaptarem rapidamente às mudanças essenciais verificadas no mercado. O “interim management” torna-se uma opção cada vez mais frequente, mesmo para recrutamento não temporário, pois permite às empresas trazerem especialistas para liderar mudanças estratégicas ou projetos específicos sem necessidade de haver um compromisso a longo prazo. No entanto, quando as empresas percebem o efetivo valor acrescentado pelos “interim managers”, isso pode levar à criação de relacionamentos mais duradouros e até mesmo à consideração desses profissionais para cargos permanentes em determinadas situações. Diferentes momentos de mercado e/ou do ciclo de vida das empresas podem exigir, por exemplo, diferentes perfis, que a agilidade e a flexibilidade desta solução de gestão permite encarar com rapidez e sem restrições. 


AIM publica III Survey 

A AIM - Associação Interim Management Portugal, em colaboração com a The International Network of Interim Manager Associations INIMA, acaba de publicar o III Survey (2024) sobre os seus associados. 
O objetivo é a recolha de informações sobre o perfil dos “interim managers” bem assim como as características dos mercados em que atuam, designadamente: as missões, os clientes, as geografias, as áreas de intervenção, os principais desafios encontrados, as perspetivas de evolução, etc. 
Os principais resultados deste III Survey (2024) indica que o “interim manager” típico em Portugal tem 57 anos, e cerca de sete anos de experiência, atua principalmente em gestão de PME e utiliza o networking como principal canal de promoção. Verificou-se um aumento na presença feminina e uma maior procura por gestores de programas e gestão geral, indicando uma evolução nas necessidades de gestão em Interim. 
A gestão de mudança/transformação continua a ser a principal área de intervenção, destacando a necessidade de adaptação e inovação nas empresas. O valor médio cobrado por dia por honorários é de 628 euros, com uma utilização média anual dos “interim managers” de 46%, o que reflete um mercado ainda em crescimento e adaptação. 
Os “interim managers” em Portugal tendem a atuar principalmente em Portugal e Espanha, com destaque também para outros países europeus e, em menor escala, a América do Sul e África. 
Os principais desafios identificados para os próximos anos incluem o desenvolvimento do mercado de Interim Management, angariação de novos negócios e missões, e aumento do reconhecimento do setor. 
A perspetiva para o desenvolvimento do mercado em 2024 é maioritariamente positiva, com 52% dos profissionais à espera de um aumento na procura por serviços de Interim Management. Maarten van Lelyveld e Mario Marafona são os autores do III Survey.

Susana Almeida, 02/05/2024
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