Os políticos “abacates”;

Os políticos “abacates”
A Comissão Parlamentar de Ordenamento do Território está a ouvir os responsáveis pela CCDR Algarve e o Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, entidades responsáveis, respetivamente, pela gestão da Reserva Ecológica Nacional (REN) e Reserva Agrícola Nacional (RAN), em audição agendada pelo PAN e BE, depois de associações ambientalistas terem levantado o problema do incremento de superfície da cultura do abacate.
Está assente na sociedade portuguesa que o abacate é uma planta muito exigente em água. Não há busca de conhecimento científico e técnico das necessidades em água das diversas fruteiras alternativas e o Algarve é uma região ameaçada pela seca, assim como dois terços do território continental de Portugal.

O que seria expectável como ação da parte dos responsáveis políticos, governantes e deputados, num país desenvolvido?
Munirem-se de conhecimento técnico e científico de todas as partes, agronómicas/económicas, por um lado, e biologia (ecossistemas/valores naturais)/gestão sustentável da água/ ambientais, por outro lado. E após terem e estudarem estes pareceres, avançarem para a audição das partes no terreno, agricultores, associações ambientalistas, assim como os responsáveis de gestão intermédia e desconcentrada dos Ministérios da Agricultura e do Ministério do Ambiente, gestores da RAN e REN, etc. e tomarem uma decisão política, quer ao nível da Assembleia da República, quer ao nível do Governo, que pondere os superiores interesses públicos que detêm as posições de ambos, as ações a tomar no presente e no futuro.
O que fazem os políticos sobre a polémica dos abacates?
Os políticos, em lugar de liderarem, como lhes compete, andam a reboque das associações ambientalistas, dos jornalistas que colocam o tema na agenda mediática e das redes sociais.
Um grupo de deputados do PS Algarve faz uma recomendação ao Governo para que determine que “qualquer nova exploração agrícola de regadio intensivo de espécies não autóctones, designadamente abacates, acima da unidade mínima de cultivo”, fique sujeita à “prévia demonstração da sustentabilidade ambiental” do projecto a desenvolver.
A ministra da Agricultura e o Ministro do Ambiente fazem declarações públicas contraditórias. A Comissão Parlamentar de Ordenamento do Território promove um conjunto de audições a responsáveis regionais de gestão dos processos burocráticos.
Factos a trazer à colação para confrontar a posição dos deputados do PS, segundo o Prof. Amílcar Duarte, especialista em fruticultura e agronomia da Universidade do Algarve: a cultura do abacate faz-se praticamente sem a aplicação de pesticidas, seja no controlo de infestantes, seja uma cultura recente em Portugal, “ainda não foram introduzidas pragas nem doenças” que obriguem a tratamentos fitossanitários.
Quanto ao consumo de água, o especialista universitário diz que o abacateiro “não é melhor nem pior” do que as outras plantações de regadio que existem no Algarve.
Assim sendo, não deveriam os projetos de toda e qualquer espécie frutícola ficar sujeita à demonstração da sustentabilidade ambiental, dado que o consumo de água não é significativamente diferente e que as aplicações de fitofármacos devem contar no balanço?
O ordenamento cultural agrícola e florestal não deveria ser feito independentemente da atividade ser autóctone/tradicional ou exótica/tropical?
O balanço e definição das superfícies irrigáveis e de sequeiro não deveria ser feito? Todos estes parâmetros não deveriam estar incorporados na classificação de cada terreno em RAN e/ou REN, evitando novas burocracias de demonstração de sustentabilidade ambiental e ao mesmo tempo criminalizando quem não cumprir no terreno estas determinações ?
Com políticos que andam ao sabor de “bitaites” sobre a cultura de abacates no Algarve, só se pode dizer que “políticos abacates”, não obrigado! Já temos e não gostamos!
José Martino, 31/03/2021
Partilhar
Comentários 0