Empresas enfrentam obstáculos ao aumento da competitividade

Temos de trilhar ainda um longo caminho se quisermos convergir com os restantes países da União Europeia, defendeu Luís Miguel Ribeiro.
A situação das empresas e da indústria, em especial no Norte do país, levanta preocupações. Há falta de competitividade e de produtividade e estamos ainda longe da convergência com as regiões mais desenvolvidas da União Europeia. As políticas públicas não têm ajudado a tornar o tecido empresarial mais competitivo. Espelho disso mesmo é que “o PIB nacional é composto em 64% por consumo privado, numa altura em que as condições se têm agravado” – afirmou Luís Miguel Ribeiro. O presidente da AEP, foi o orador convidado de um debate promovido pela Direção regional Norte da Ordem dos Economistas, tendo por tema “A competitividade empresarial – os ventos sopram do Norte”.
A Comissão Europeia divulgou os últimos dados sobre a competitividade. Continua a haver uma enorme disparidade nos indicadores de desenvolvimento de diversas regiões, por exemplo da Roménia com a região da Holanda. Ao fim de muitos anos a disponibilizar recursos, não estão a ser obtidos os resultados desejados. “Há três aspetos que são apontados nestes indicadores, o PIB per capita é maior nas regiões mais competitivas, os jovens desempregados praticamente não existem e são regiões muito atraentes para os recém-formados. Portugal melhorou em termos de competitividade, mas a região Norte e Centro teve um crescimento anémico nas duas décadas antes da pandemia. Em 2022, houve um crescimento de 6,7% do PIB. No entanto, vamos continuar a trilhar ainda um caminho de mediocridade, que não nos vai permitir convergir com o resto dos países europeus. O problema continua a ser o mesmo, que é o da produtividade. O país está cada vez menos competitivo e atrativo, tem cada vez menos pessoas e terá dificuldade em atrair quadros de outros países. Por mais que o Governo nos queira dizer que é preciso aumentar os salários, isso não se resolve por decreto”, explicou o dirigente associativo.
Políticas públicas não ajudam
O contexto tem muitas vezes a ver com políticas públicas. Para Luis Miguel Ribeiro, as empresas são o fator principal para criarmos condições para sermos competitivos. “A criação de riqueza deve ser um desígnio nacional, não se pode continuar a viver num sistema de subsidiação. Temos pela frente grandes desafios, mas há um aspeto que merece ser partilhado, que é a questão da composição do PIB nacional. 64% de o PIB nacional é consumo privado, numa altura de elevada taxa de inflação e aumento da taxa de juro. Este é um país em que alguém que tenha ambição de ganhar mais é altamente penalizado. Temos uma classe média cada vez mais frágil, o impacto sobre o consumo será muito forte, os custos de contexto vão limitar as exportações. Não somos capazes de valorizar os recursos endógenos que temos no território.” Para o presidente da AEP, um outro problema é a falta de atratividade para captar mais investimento. “Temos uma carga fiscal altíssima e uma burocracia que tira a vontade de investir. Temos um sistema de justiça que não funciona. Nem sequer somos capazes de fazer com que a diáspora invista no nosso país. Temos ainda grande dificuldade em reter os mais qualificados. A realidade é que não há pessoas para trabalhar, ainda que com salários mais altos”, acrescentou,
Também se coloca a questão do que se anda a fazer, na indústria, em termos de formação e qualificação ao nível dos recursos comunitários. É preciso apostar na valorização dos recursos humanos. “Este problema coloca-se com maior impacto no Norte do país, ainda que contribua com 35% para as exportações. Esta é uma região que tem sido altamente penalizada. Temos agora mais uma oportunidade que é utilizar bem os fundos comunitários, no sentido de uma maior coesão territorial. São grandes desafios que se colocam. Ainda vai demorar algum tempo para a situação se altere, mesmo com algum otimismo”, concluiu Luís Miguel Ribeiro.
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