Jovens agricultores não vão para o interior sem Saúde e Internet
O presidente da CAP vê com bons olhos mais um aviso para apoios à instalação de jovens agricultores em regiões de baixa densidade. Mas deixa um alerta ao Ministério da Agricultura: “Para cativar os outros [jovens] a deslocarem-se para essas regiões, o país tem de lhes 'oferecer' tudo o resto: Internet de banda larga, acesso à Saúde, organizações de produtores compatíveis com dinâmicas audazes de comercialização, colaboração e acompanhamento por parte das universidades e politécnicos, entre outras”.
Vida Económica - Como vê o lançamento, pelo Ministério da Agricultura, destes dois avisos do PDR2020 para apoio à instalação de jovens agricultores em territórios de baixa densidade, através de um prémio à primeira instalação e apoio ao respetivo investimento na exploração agrícola? São atrativos para os jovens? São incentivos suficientemente motivadores para que alguém se fixe no interior?
Eduardo Oliveira e Sousa - De realçar que qualquer lançamento de avisos para investimento é positivo. Se é para jovens, ainda mais, uma vez que é bom que Portugal aposte na juventude e nas novas tecnologias. mas, como tudo na vida, há sempre um “Mas”. Lançar um desafio desta natureza “apenas” para regiões de baixa densidade, leia-se, desfavorecidas, é, em primeiro lugar, interessante para os que lá estão. Para cativar os outros a deslocarem-se para essas regiões, o país tem de lhes “oferecer” tudo o resto: Internet de banda larga, acesso à Saúde, organizações de produtores compatíveis com dinâmicas audazes de comercialização, colaboração e acompanhamento por parte das universidades e politécnicos, entre outras. Tudo tal como a CAP elencou no seu recente documento “Ambição Agro 2020-30”.
VE - Esta dotação financeira de 10 milhões de euros é suficiente? Quantos jovens agricultores vai permitir instalar?
EOS - Atendendo à experiência do passado e por se tratar de um aviso dirigido apenas a regiões de baixa densidade, é provável que a dotação seja adequada. Caso se verifique um “boom” de intenções, o Ministério poderá, se assim o entender, abrir novo. O número de jovens a instalar será muito dependente do interesse que os próprios mostrarem, uma vez que, como disse antes, estou em crer que a motivação será especialmente para os que lá estão ou que tenham raízes nas regiões alvo, nomeadamente por ligações familiares e de transição geracional.
VE - Que culturas agrícolas deveriam ser privilegiadas, na instalação destes jovens?
EOS - Não é fácil responder a esta questão. Cada caso é um caso. No entanto, uma coisa é certa: nenhum projeto deverá ser vocacionado para algo que não seja adequado à região para a qual se projeta. Por exemplo, e recorrendo à ironia, um projeto de cerejas em Mértola deve ser recusado à nascença.
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