Santander e BPI continuam a aumentar crédito às empresas
Os quatro maiores bancos privados a operar em Portugal revelam estratégias diferentes na concessão de crédito às empresas. O Santander e BPI continuam a aumentar o volume de financiamento, mas o Millennium bcp e novobanco estão a reduzir a exposição às empresas. Em 12 meses o Millennium bcp reduziu a carteira de crédito em 1496 milhões de euros.
Até setembro deste ano, a carteira de crédito do Santander às empresas e institucionais atingiu 22 757 milhões de euros (mais 2025 milhões do que em igual período do ano passado). O BPI cresceu 3%, atingindo 517 milhões, ou seja, mais 361 milhões. Pelo contrário, no Millennium bcp o volume de crédito às empresas caiu 1496 milhões (descendo de 18 335 milhões para 13 873 milhões yoy). O novobanco teve uma redução ligeira de 0,8%, diminuindo 115 milhões (de 13 988 para 13 873 yoy).
O Santander continua a ser o banco com o maior volume de crédito às empresas em Portugal, apresentando um crescimento constante.
O banco explica o crescimento com a sua estratégia de apoio aos projetos dos clientes: “Em complementaridade às soluções de liquidez e de gestão de tesouraria, assim como do apoio ao negócio internacional, juntam-se os instrumentos de apoio à transição energética das empresas nacionais. Neste período, o Banco também assinou junto do Banco Português de Fomento as linhas de apoio à economia no âmbito do InvestEU com uma dotação total de 3,5 mil milhões de euros.
BPI atribui prioridade às empresas
Até setembro deste ano, a carteira total de crédito a empresas do BPI cresceu 3% yoy para 11,5 mil milhões de euros. De salientar que, nos primeiros nove meses de 2024, o BPI concedeu mil milhões de euros de financiamento sustentável.
Relativamente a esta evolução favorável no crédito, o BPI considera que o crédito às empresas “é uma área prioritária de crescimento para o BPI. Estruturámos uma oferta simplificada e competitiva e reforçámos a especialização das nossas equipas em setores estratégicos como Agricultura, Comércio Internacional, Turismo e Imobiliário. Esta aposta tem resultado num contínuo crescimento do negócio e, também, no reconhecimento da qualidade de serviço da nossa Banca de Empresas, que obteve e renovou a certificação de qualidade, atribuída pela AENOR. Acreditamos que a economia portuguesa tem uma grande oportunidade de crescimento, e estamos empenhados em apoiar a competitividade nacional e internacional das empresas”, afirmou fonte do BPI à “Vida Econmica”.
“O segmento de PME, em particular, é fundamental para o banco. Além de oferecer apoio em processos de financiamento (bancário ou através de apoios públicos), estamos a ajudar as PME na transição sustentável. Neste sentido, disponibilizamos soluções como a linha BPI ESG Empresas de 500 milhões de euros, além de uma linha de 300 milhões de euros em parceria com o Banco Europeu de Investimento (BEI), destinada a financiar PME, empresas de média capitalização (MidCaps) e entidades do setor público que priorizem fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) nas suas estratégias”, acrescentou a mesma fonte.
Novobanco aposta na especialização setorial
No crédito às empresas, o novobanco regista queda até setembro de 2024 (-0,8% yoy), embora menos acentuada do que há um ano atrás (-3,4% yoy). O banco explica esta evolução favorável “pela especialização, pela proximidade e pela parceria com os empresários portugueses”.
“Nos últimos anos, estamos a ampliar quota de mercado nas principais frentes, com destaque para o Factoring, Confirming, Fundos Europeus e Leasing Mobiliário, um crescimento que tem vindo a ser impulsionado pela proposta de valor única, que vai ao encontro das necessidades específicas de cada cliente e de cada setor”, afirma à “Vida Económica” Luís Ribeiro, administrador de Empresas do novobanco.
Segundo o mesmo responsável, “atualmente, 59% do stock de crédito e 67% da produção de crédito de médio e longo-prazo destinam-se a apoiar as empresas, refletindo o compromisso em disponibilizar soluções adequadas às necessidades de investimento e ao crescimento das empresas”.
“Contamos com uma oferta de crédito completa e competitiva, de forma a conseguirmos financiar os projetos de investimento e apoiar as necessidades de fundo de maneio das empresas, assegurado que cada cliente encontra soluções ajustadas aos seus objetivos e ao seu contexto. Além disso, a especialização setorial é um elemento essencial da nossa estratégia: adaptámos a nossa abordagem para cada setor de atividade, com reforço do expertise interno, permitindo apoiar o processo de análise de crédito, com uma comunicação direcionada e com soluções específicas que respondem às particularidades de cada fileira”, acrescenta Luís Ribeiro.
“Num contexto económico cada mais vez desafiante e incerto, o novobanco quer continuar a reforçar o compromisso com as empresas portuguesas, financiando os bons projetos de investimento, contribuindo para uma economia mais inovadora, mais produtiva, mais sustentável e mais competitiva. As empresas e os empresários portugueses podem continuar a contar com o novobanco”, conclui.
Millennium bcp perde quota de mercado nas empresas
No Millennium bcp, o crédito a empresas em Portugal fixou-se em 16 839 milhões de euros em 30 de setembro de 2024, descendo 8,2% face à mesma data do ano anterior (18 335 milhões de euros no final dos nove primeiros meses de 2023), “devido à menor procura de crédito influenciada pela política monetária, redução de NPE (“crédito malparado”) neste segmento, bem como reembolso das linhas Covid”, explica o banco.
Há um ano atrás, a explicação do Millennium bcp para a redução do crédito às empresas em 1593 milhões de euros no final do terceiro trimestre, foi semelhante: “contexto de menor procura de crédito em virtude das taxas de juro mais elevadas, adiamentos e atrasos em projetos de investimento e, também, redução de stock de NPE neste segmento”.
Procura de crédito deve aumentar
As tendências no crédito bancário para empresas em Portugal em 2024 mostram um cenário de alguma incerteza face às taxas de juro que se mantêm bastante acima da média dos último anos. A procura de crédito por parte das empresas, especialmente PME, deve aumentar nos próximos meses, impulsionada pela necessidade de expansão e renovação de dívidas em setores-chave. Esta expectativa é refletida nas respostas dos bancos no último inquérito do Banco de Portugal, que indicam que, após a estabilidade dos pedidos de crédito no terceiro trimestre, deve haver uma maior procura no final do ano, particularmente em financiamentos de longo prazo.
No contexto das taxas de juro, a política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que esteve focada no combate à inflação, fez com que os juros alcançassem um pico. Atualmente, as taxas de juro médias para novos empréstimos de curto prazo situam-se em torno de 5,6%, uma ligeira queda em relação ao valor anterior, mas ainda elevadas devido às subidas anteriores. No entanto, espera-se que o BCE mantenha a redução gradual dos juros, o que poderá facilitar o acesso ao crédito e reduzir os custos para empresas em 2025. Essa política também se reflete na expectativa de diminuição das margens financeiras dos bancos, especialmente com um eventual alívio monetário no próximo ano.
As taxas de juro para empréstimos com maturidade até um ano estão atualmente em 5,6% em Portugal. Em termos de contexto europeu, os juros em Espanha e Alemanha encontram-se também em patamares semelhantes, enquanto as taxas de longo prazo têm maior variação, dependendo do perfil de risco e garantias associadas ao crédito concedido.