Jovens interessados na literacia financeira podem ser os catalisadores da mudança
Aumentar o interesse dos jovens e famílias pela educação financeira e quebrar com o tabu de que as finanças são algo complexo e distante. Este foi o motivo que levou Francisco Vilela a escrever o livro “O Código 20/30/50: A descoberta financeira”.
Segundo o autor, “o nível de literacia financeira entre os jovens em Portugal é ainda insuficiente e revela algumas lacunas preocupantes” e “os jovens que se interessarem pela literacia financeira podem ser verdadeiros catalisadores de mudança”.
Segundo o autor, “o nível de literacia financeira entre os jovens em Portugal é ainda insuficiente e revela algumas lacunas preocupantes” e “os jovens que se interessarem pela literacia financeira podem ser verdadeiros catalisadores de mudança”.
Vida Económica - O que o motivou a escrever um livro sobre literacia financeira para jovens?
Francisco Vilela - O que mais me motivou foi perceber que, apesar de a educação financeira ser essencial, ainda é um tema muitas vezes desinteressante e até um tabu, tanto para os jovens como para as suas famílias. Como pai de três filhos, noto esse desinteresse aliado à ideia de que as finanças são algo complexo e distante. Para muitas famílias, falar sobre dinheiro é desconfortável, um tema discutido raramente ou de forma vaga. A ideia deste livro surgiu precisamente para quebrar esse ciclo, tentando criar uma abordagem prática e acessível que torne o tema mais interessante e aberto ao diálogo, não só para os jovens, mas também para as suas famílias.
Além disso, o livro procura, de forma subtil, incentivar os jovens a desenvolver uma consciência sobre os riscos envolvidos em muitas escolhas financeiras. O objetivo é que comecem, desde cedo, a reconhecer os riscos, a avaliar oportunidades e a tomar decisões ponderadas, de forma a proteger o seu futuro.
Se os jovens se interessarem pela literacia financeira, podem ser verdadeiros catalisadores de mudança, trazendo esta conversa para dentro de casa e promovendo o diálogo. Se, com este livro, conseguir despertar nos jovens a confiança e a curiosidade para falar sobre dinheiro, sinto que estarei a dar um pequeno contributo para que o tema das finanças se torne uma prática natural, positiva e construtiva nas famílias.
VE - Que temas de literacia financeira considera mais importantes para jovens e porquê?
FV - A importância dos temas varia de acordo com o nível de conhecimento de cada jovem, mas é essencial começar pelo básico: o valor do dinheiro, a importância da poupança e a criação de um orçamento pessoal. Estes são os pilares iniciais da literacia financeira, e ajudam os jovens a entender como gerir o que recebem e a planear o futuro. Estes conceitos tornam-se a base para, que com o tempo, possam lidar com temas mais complexos e à medida que os jovens avançam no conhecimento financeiro, é essencial que também compreendam o conceito de risco. Isso permite que, no futuro, tomem decisões ponderadas sobre crédito, investimentos e outras escolhas financeiras. Deve ser uma abordagem gradual, que permita aos jovens crescerem com mais autonomia financeira.
VE - Pode partilhar algum exemplo prático ou lição do livro que ajude os jovens a tomar melhores decisões financeiras?
FV - Claro! O livro é centrado na regra do “Código 20-30-50”, uma fórmula simples onde 20% dos rendimentos são destinados à poupança, 30% para desejos e lazer, e 50% para necessidades básicas. Na história, quatro amigos descobrem essa regra enquanto criam um projeto de t-shirts personalizadas e aplicam-no para aprender a dividir e gerir os lucros. Esta abordagem ajuda-os a perceber que a gestão financeira não é só poupar, mas também saber equilibrar e planear para crescer.
Lá em casa, por exemplo, uma das coisas que, a minha mulher e eu, fazemos para incentivar a poupança é dar uma mesada aos nossos filhos e, no final de cada ano, atribuímos um bónus sobre o valor que tiverem poupado na conta. É uma maneira de lhes mostrar, na prática, que o dinheiro pode crescer quando é bem gerido, e ajuda-os a perceber a importância de poupar com um propósito.
Panorama atual e necessidade de mudança
VE - Como vê o nível de literacia financeira entre os jovens hoje em dia? Acredita que existe uma lacuna nas escolas em relação a este tema?
FV - A minha perceção, reforçada por estudos recentes, é que o nível de literacia financeira entre os jovens em Portugal é ainda insuficiente e revela algumas lacunas preocupantes. Por exemplo, o estudo PISA de 2022 mostrou que, apesar de 86% dos jovens se sentirem confiantes a gerir o seu dinheiro, muitos revelam dificuldades em planear as despesas diárias e em entender alguns conceitos básicos.
A nível escolar, a literacia financeira ainda não recebe a atenção necessária. Portugal ficou em 13º lugar em literacia financeira entre 39 países da OCDE em 2023, uma posição que, embora esteja na média global, demonstra a necessidade de avanços, principalmente entre os mais novos.
Creio que a inclusão de conteúdos de literacia financeira no currículo escolar desde cedo ajudaria a colmatar essas lacunas, preparando os jovens para tomarem decisões financeiras mais informadas ao longo da vida.
VE - Na sua opinião, o que deveria ser incluído no currículo escolar para melhorar a literacia financeira dos jovens?
FV - Acho que podemos seguir o exemplo de países com maiores índices de literacia financeira, como a Finlândia, a Estónia e os Países Baixos, onde a literacia financeira é introduzida de forma progressiva e adaptada a cada etapa escolar. Começando por ensinar o valor do dinheiro e os conceitos básicos de poupança e orçamento logo nas primeiras etapas de ensino, utilizando atividades práticas, jogos interativos e simulações que mostram como gerir uma pequena mesada ou planear uma compra. Nos ciclos seguintes, seria interessante integrar simulações financeiras, como jogos de economia e feiras fictícias onde os alunos tomam decisões financeiras num ambiente seguro e controlado. O livro também dá algumas ideias sobre isto.
Uma abordagem prática e envolvente ajuda os alunos a compreenderem, desde cedo, que o dinheiro requer planeamento e escolhas informadas.
No ensino secundário, segue-se um percurso mais aprofundado, abordando temas complexos como juros compostos, crédito e até mesmo investimentos e planeamento financeiro a longo prazo.
Outro exemplo que poderíamos seguir é na formação dos professores. Nos países referidos, as aulas de literacia financeira contam com educadores que receberam formação específica na área, e em alguns casos, profissionais da área financeira participam em projetos escolares para dar uma perspetiva prática.
VE - Se pudesse dar um conselho financeiro essencial a todos os jovens, qual seria?
FV - O meu conselho é: comecem a usar a regra do “Código 20-30-50” desde cedo e façam do vosso dinheiro um aliado. Esta regra ajuda a equilibrar poupança, lazer e despesas essenciais. Mesmo com pequenas quantias, o importante é criar o hábito de poupar. Pensem no dinheiro como uma ferramenta que vos dará opções e liberdade. Sigam o exemplo do Luís, da Matilde, do Ravi e da Clara, guardem sempre uma parte do que recebem e estabeleçam um objetivo concreto – algo que realmente queiram. Esse propósito vai motivar-vos a continuar.
Acreditem, quando vemos o nosso dinheiro crescer, mesmo que lentamente, ganhamos uma sensação incrível de autonomia e de controlo. É esta prática inicial que cria a base para, no futuro, poderem investir, viajar, estudar ou iniciar um projeto vosso.
Francisco Vilela - O que mais me motivou foi perceber que, apesar de a educação financeira ser essencial, ainda é um tema muitas vezes desinteressante e até um tabu, tanto para os jovens como para as suas famílias. Como pai de três filhos, noto esse desinteresse aliado à ideia de que as finanças são algo complexo e distante. Para muitas famílias, falar sobre dinheiro é desconfortável, um tema discutido raramente ou de forma vaga. A ideia deste livro surgiu precisamente para quebrar esse ciclo, tentando criar uma abordagem prática e acessível que torne o tema mais interessante e aberto ao diálogo, não só para os jovens, mas também para as suas famílias.
Além disso, o livro procura, de forma subtil, incentivar os jovens a desenvolver uma consciência sobre os riscos envolvidos em muitas escolhas financeiras. O objetivo é que comecem, desde cedo, a reconhecer os riscos, a avaliar oportunidades e a tomar decisões ponderadas, de forma a proteger o seu futuro.
Se os jovens se interessarem pela literacia financeira, podem ser verdadeiros catalisadores de mudança, trazendo esta conversa para dentro de casa e promovendo o diálogo. Se, com este livro, conseguir despertar nos jovens a confiança e a curiosidade para falar sobre dinheiro, sinto que estarei a dar um pequeno contributo para que o tema das finanças se torne uma prática natural, positiva e construtiva nas famílias.
VE - Que temas de literacia financeira considera mais importantes para jovens e porquê?
FV - A importância dos temas varia de acordo com o nível de conhecimento de cada jovem, mas é essencial começar pelo básico: o valor do dinheiro, a importância da poupança e a criação de um orçamento pessoal. Estes são os pilares iniciais da literacia financeira, e ajudam os jovens a entender como gerir o que recebem e a planear o futuro. Estes conceitos tornam-se a base para, que com o tempo, possam lidar com temas mais complexos e à medida que os jovens avançam no conhecimento financeiro, é essencial que também compreendam o conceito de risco. Isso permite que, no futuro, tomem decisões ponderadas sobre crédito, investimentos e outras escolhas financeiras. Deve ser uma abordagem gradual, que permita aos jovens crescerem com mais autonomia financeira.
VE - Pode partilhar algum exemplo prático ou lição do livro que ajude os jovens a tomar melhores decisões financeiras?
FV - Claro! O livro é centrado na regra do “Código 20-30-50”, uma fórmula simples onde 20% dos rendimentos são destinados à poupança, 30% para desejos e lazer, e 50% para necessidades básicas. Na história, quatro amigos descobrem essa regra enquanto criam um projeto de t-shirts personalizadas e aplicam-no para aprender a dividir e gerir os lucros. Esta abordagem ajuda-os a perceber que a gestão financeira não é só poupar, mas também saber equilibrar e planear para crescer.
Lá em casa, por exemplo, uma das coisas que, a minha mulher e eu, fazemos para incentivar a poupança é dar uma mesada aos nossos filhos e, no final de cada ano, atribuímos um bónus sobre o valor que tiverem poupado na conta. É uma maneira de lhes mostrar, na prática, que o dinheiro pode crescer quando é bem gerido, e ajuda-os a perceber a importância de poupar com um propósito.
Panorama atual e necessidade de mudança
VE - Como vê o nível de literacia financeira entre os jovens hoje em dia? Acredita que existe uma lacuna nas escolas em relação a este tema?
FV - A minha perceção, reforçada por estudos recentes, é que o nível de literacia financeira entre os jovens em Portugal é ainda insuficiente e revela algumas lacunas preocupantes. Por exemplo, o estudo PISA de 2022 mostrou que, apesar de 86% dos jovens se sentirem confiantes a gerir o seu dinheiro, muitos revelam dificuldades em planear as despesas diárias e em entender alguns conceitos básicos.
A nível escolar, a literacia financeira ainda não recebe a atenção necessária. Portugal ficou em 13º lugar em literacia financeira entre 39 países da OCDE em 2023, uma posição que, embora esteja na média global, demonstra a necessidade de avanços, principalmente entre os mais novos.
Creio que a inclusão de conteúdos de literacia financeira no currículo escolar desde cedo ajudaria a colmatar essas lacunas, preparando os jovens para tomarem decisões financeiras mais informadas ao longo da vida.
VE - Na sua opinião, o que deveria ser incluído no currículo escolar para melhorar a literacia financeira dos jovens?
FV - Acho que podemos seguir o exemplo de países com maiores índices de literacia financeira, como a Finlândia, a Estónia e os Países Baixos, onde a literacia financeira é introduzida de forma progressiva e adaptada a cada etapa escolar. Começando por ensinar o valor do dinheiro e os conceitos básicos de poupança e orçamento logo nas primeiras etapas de ensino, utilizando atividades práticas, jogos interativos e simulações que mostram como gerir uma pequena mesada ou planear uma compra. Nos ciclos seguintes, seria interessante integrar simulações financeiras, como jogos de economia e feiras fictícias onde os alunos tomam decisões financeiras num ambiente seguro e controlado. O livro também dá algumas ideias sobre isto.
Uma abordagem prática e envolvente ajuda os alunos a compreenderem, desde cedo, que o dinheiro requer planeamento e escolhas informadas.
No ensino secundário, segue-se um percurso mais aprofundado, abordando temas complexos como juros compostos, crédito e até mesmo investimentos e planeamento financeiro a longo prazo.
Outro exemplo que poderíamos seguir é na formação dos professores. Nos países referidos, as aulas de literacia financeira contam com educadores que receberam formação específica na área, e em alguns casos, profissionais da área financeira participam em projetos escolares para dar uma perspetiva prática.
VE - Se pudesse dar um conselho financeiro essencial a todos os jovens, qual seria?
FV - O meu conselho é: comecem a usar a regra do “Código 20-30-50” desde cedo e façam do vosso dinheiro um aliado. Esta regra ajuda a equilibrar poupança, lazer e despesas essenciais. Mesmo com pequenas quantias, o importante é criar o hábito de poupar. Pensem no dinheiro como uma ferramenta que vos dará opções e liberdade. Sigam o exemplo do Luís, da Matilde, do Ravi e da Clara, guardem sempre uma parte do que recebem e estabeleçam um objetivo concreto – algo que realmente queiram. Esse propósito vai motivar-vos a continuar.
Acreditem, quando vemos o nosso dinheiro crescer, mesmo que lentamente, ganhamos uma sensação incrível de autonomia e de controlo. É esta prática inicial que cria a base para, no futuro, poderem investir, viajar, estudar ou iniciar um projeto vosso.
Autor apresenta livro na Biblioteca do CIC
A apresentação do livro “O código 20/30/50 – A descoberta financeira”, decorrerá às 11h30, dia 31 de outubro (Dia Mundial da Poupança), na Biblioteca do CIC – Colégio do Internato dos Carvalhos, Rua Moeiro, Pedroso, Carvalhos. A apresentação será feita por Maria José Vidal. “ ‘O Código 20/30/50: A Descoberta Financeira’ é um livro dinâmico que ensina os jovens a lidarem com o dinheiro de forma prática e divertida. Ao misturar um enredo cativante com conselhos práticos este livro não é como um manual de finanças, mas sim uma caça ao tesouro que envolve e desafia o leitor. Acompanhar Luís, Matilde, Ravi e Clara no desvendar do código ‘20-30-50’ é descobrir como a literacia financeira pode ser transformadora. Ideal para jovens leitores e famílias, este é um livro que explica a importância da poupança e das finanças pessoais de uma forma divertida e descontraída”, adianta Francisco Vilela. |