Escrevendo artigos genéricos a outros mais técnicos, suportados em estudos de reconhecidas entidades, tem existido sempre uma preocupação de se apresentar exemplos de negócios familiares portugueses e, quando relevante, exemplos internacionais.
Esta filosofia vai manter-se explorando, a partir deste artigo, a temática do papel que as mulheres desempenham nos denominados “C-suite” (termo vulgarmente utilizado para se referir os executivos de topo das empresas e cujos acrónimos normalmente se iniciam por C: CEO – Chief Executive Officer; CFO – Chief Financial Officer; CIO – Chief Information Officer; COO – Chief Operational Executive; etc.), suportando-se num estudo da Ernst and Young, baseado num inquérito a cerca de 2.400 das maiores empresas familiares do mundo, realizado em 2014, e que deu origem a uma análise sintetizada no relatório ”Women in leadership - The family business advantage”.
A grande conclusão, e que servirá de fio condutor ao desenvolvimento dos artigos, é que as maiores e mais duradouras empresas familiares do mundo estão a envolver cada vez mais mulheres na sua liderança de todo, e a um ritmo mais célere que as entidades não familiares.
Recorde-se que os negócios familiares, ao criarem mais de 70% do PIB e entre 50% a 80% dos empregos, são um dos principais pilares da economia mundial. Num mundo com uma tendência de concentração geográfica das pessoas em países e suas cidades mais desenvolvidas, a importância destas organizações é ainda mais significativa ao estarem muitas vezes sedeadas nas comunidades locais onde nasceram.

A primeira grande constatação sobre as empresas participantes no estudo é que possuem em média:

• 5 mulheres em funções de executivos de topo (C-suite) e
• 4 mulheres a serem preparadas para assumirem posições de liderança.

Falar de liderança feminina em Portugal é indissociável da referência a um dos maiores exemplos de liderança empresarial: D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896) – A Ferreirinha. José Ferreira, em 1834, casa a sua filha Adelaide com o primo direito António Bernardo. Esta relação foi muito curta, pois enviuvou aos 33 anos, quando já tinham surgido dois filhos: Maria d’Assunção e António Bernardo Ferreira e Maria Virgínia.   D. Antónia foi quem sempre assumiu a condução do negócio agrícola. Sob a sua liderança, foram introduzidas diversas inovações na cultura do vinho, passando uma delas pela criação de socalcos para criar e ligar espaços planos no declive das encostas do rio Douro. Em meados da década de 60 as vinhas do Douro são muito afetadas por uma praga que seca e mata as raízes das videiras - filoxera. Esta empresária não desiste e foi a Inglaterra à procura de uma solução, passando esta pelo enxertio das castas europeias em videiras americanas, cujas raízes se mostravam imunes ao ataque deste inseto. Assumiu esta hercúlea tarefa que acabou por dar excelentes resultados. Faleceu aos 85 anos deixando uma considerável fortuna e cerca de trinta quintas. Em 1987 a A.A. Ferreira é adquirida pela Sogrape, outra grande empresa dedicada aos vinhos e detida pela família empresária Van Zeller Guedes, que, em 1988 e em colaboração com os descendentes cria o Prémio Dona Antónia Adelaide Ferreira com o intuito principal de “distinguir, anualmente, figuras femininas portuguesas que, devido às suas características humanas e capacidades de empreendedorismo, tenham replicado de alguma forma o excecional exemplo de Dona Antónia nos tempos de hoje, nomeadamente através do contributo para o desenvolvimento económico, social e cultural do País.” Que excelente tributo à memória de “A Ferreirinha”.

Temas para reflexão:

• Quantos elementos femininos trabalham na nossa empresa?
• Quantas destas pessoas assumem funções de liderança?
• O que fazemos para proporcionar a sua plena integração e assunção de funções?

António Nogueira da Costa
Especialista em Empresas Familiares
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Especialistas na consultoria a Empresas Familiares
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