TAP Manutenção de Motores aposta na qualidade, segurança e inovação;

TAP Manutenção de Motores aposta na qualidade, segurança e inovação
A TAP tem, ao longo dos anos, granjeado o reconhecimento internacional em áreas que vão da segurança de voo – com importante incidência nas pessoas (formação, pilotos, tripulantes) – à Manutenção e Engenharia ou IT. Merece especial destaque a enorme e reconhecida reputação, nacional e internacional, da sua Área de Manutenção de Motores, que se deve à excelência dos seus profissionais, apoiada e suportada por muitas áreas da empresa, num trabalho de equipa e cooperação de todos.
E, para melhor conhecer este tema, nada como conversar com Nuno Soares, diretor da Oficina de Manutenção de Motores da TAP.
Vida Económica - Qual é a sua formação de base, há quanto tempo está na TAP e os motivos pelos quais quis vir para esta empresa?
Nuno Soares -
Formei-me em Engenharia Mecânica, tendo ingressado na TAP em 1997. Sendo a TAP uma empresa de referência na indústria, cuja equipa de Manutenção é reconhecida nacional e internacionalmente pela sua competência, rigor e qualidade, foi natural ter escolhido esta empresa para continuar a minha formação técnica e aqui poder aplicar todos os conhecimentos até então adquiridos.

VE - O que atualmente o move para continuar na TAP.
NS -
Claramente, a equipa. Na Manutenção, em geral, e na Oficina de Motores, em particular, existe um sentido de equipa único, onde a entrega e entreajuda continuam a ser os pilares da atividade desenvolvida, que nos permite ter o reconhecimento dos nossos clientes e a confiança para continuarem a reparar os seus motores na nossa Oficina. 

VE - Quando começou esta área e onde está inserida?
NS -
Esta Oficina de Motores foi inaugurada em 1968 junto ao Aeroporto de Lisboa, inicialmente com o objetivo de efetuar reparações de motores para a frota TAP. Com o conhecimento adquirido e a capacidade instalada, foi decidido no início dos anos 90 investir na venda de serviços para clientes terceiros. Essa atividade tem vindo a ser uma fonte de receita muito importante para a TAP, uma vez que se traduz em resultados líquidos positivos na ordem das dezenas de milhões de euros.
Com um portefólio de clientes na última década oriundos de todo o mundo, encontram-se operadores de topo europeus, americanos, asiáticos e africanos, que nos permite olhar com confiança para o futuro desta Oficina. Localizada junto ao Aeroporto de Lisboa, conta com diversos edifícios, dedicados a desmontagens/montagens, reparação e ensaio de motores, APU (geradores auxiliares) e “thrustreversers” (inversores de impulso, utilizados na aterragem do avião).

Trabalho alinhado com a gestão da frota
VE - O que faz exatamente a vossa área?
NS -
A Área de Motores dedica-se à reparação de motores, APU e “thrustreversers”, para a TAP e para clientes de todo o mundo. Sendo os motores a principal atividade, presta também serviços de engenharia a clientes, no âmbito do controlo de aeronavegabilidade.
Nos anos pré-Covid tínhamos uma capacidade produtiva na ordem das 270.000 horas, com uma equipa de 312 colaboradores.
Em 2023, esperamos atingir idêntico número de horas, com 304 trabalhadores, fruto de melhorias de eficiência e processos. Esta dimensão permite-nos efetuar cerca de 180 intervenções anuais, desde inspeções simples de início/fim de Lease (aluguer) até à reparação total dos motores “overhaul)” em função das necessidades da TAP e das solicitações dos clientes.
De há muitos anos a esta parte que, para a frota TAP, otimizamos os pacotes de trabalho em alinhamento com a gestão da frota de modo que as intervenções se adequem à necessidade operacional, garantindo sempre uma performance ajustada temporalmente ao mínimo custo.

VE - Todos os motores têm de ser amplamente verificados após uma reparação ou manutenção. Sabemos que a TAP ocupa uma das primeiras posições e é reconhecida por isso mundialmente, mas toda esta garantia se deve aos vários controlos de qualidade de que são alvo, a procedimentos rigorosos e onde o erro praticamente não pode existir.
NS -
É verdade. Em aeronáutica o padrão de operacionalidade tem que ser extraordinariamente elevado, e, como tal, após a reparação, os motores têm que passar por várias inspeções e ensaios antes de serem certificados. Desde a inspeção final (“walkaround”) após montagem até aos ensaios de fugas, vibrações, potência, etc., centenas de itens são verificados e os respetivos valores registados, por forma a poder assegurar a operacionalidade do equipamento.
Os testes efetuados em banco de ensaio replicam a operação do motor instalado em asa, nas várias fases de operação, permitindo assim uma maior garantia da qualidade do serviço prestado.

“Dirtydozen”
VE - O que são os “dirtydozen” e de que modo são importantes na vossa estratégia?
NS -
Os “dirtydozen” são um ponto central da nossa estratégia para a garantia do cumprimento do padrão de qualidade e segurança necessário nesta atividade. Sabendo que cerca de 80% dos erros em Manutenção se devem a Fatores Humanos, é fundamental estar consciente desta temática e procurar constantemente garantir a ausência dos “dirtydozen”.  Estes “dirtydozen”, situações que contribuem de forma clara para a ocorrência de falhas, foram identificados por Gordon Dupont no início dos anos 90, e desde então têm sido a base para a estruturação de sistemas de qualidade robustos. Dependendo dos níveis de atividade, tipo de operação, estrutura da empresa, etc., alguns dos DirtyDozen tornam-se mais importantes do que outros. No entanto, o fator “falta de comunicação” continua a ser o principal responsável pelas falhas ocorridas nesta Indústria.

VE - O pessoal da vossa área, acredito, passa por rigorosos e contínuos processos de formação tradicional e formação on-the-job? Alguma dessa formação é também já ministrada através do nosso centro de conteúdos e-learning nas matérias onde tal é aplicável?
NS -
Sim. Na TAP temos um excelente centro de formação (aprovado pela EASA – Agencia Europeia para a Segurança da Aviação) onde muitos dos nossos técnicos têm a sua formação base e, posteriormente, as formações específicas. Com cerca de 100.000 horas de formação ministradas anualmente aos colaboradores da Manutenção e Engenharia, a TAP valoriza os seus colaboradores, dando-lhe as competências necessárias ao exercício da sua atividade.

VE - Podes descrever-me o processo de reparação de um motor na vossa área?
NS -
O processo de reparação total de um motor de avião dura cerca de 60-70 dias e atravessa várias fases.
É iniciado com uma inspeção de receção, que pode incluir uma “endoscopia” para avaliar a condição interna de algumas áreas do motor. De seguida, o motor é desmontado e as suas peças limpas com produtos específicos, por forma a que possam ser identificados quaisquer danos.
Após a limpeza as peças são inspecionadas por ensaios não destrutivos (líquidos penetrantes, partículas magnéticas, raio X, EddyCurrrents, etc.), por inspeção visual e por inspeção dimensional (incluindo o recurso a máquinas CNC).
Consoante o resultado das inspeções, as peças podem ser classificadas essencialmente como “uteis”, “reparáveis” ou “sucata”. As “uteis” ficam portanto disponíveis para montagem, enquanto para a “sucata” é necessário espoletar o processo de requisição ao armazém (ou aquisição) para serem substituídas. Para as “reparáveis” é então definido e executado o processo de reparação que envolve diversas etapas e processos (soldadura, plasma, maquinação, HVOF-HighVelocityOxygen Fuel, tratamentos térmicos, tratamentos químicos, etc.).
Após todas as peças do motor estarem úteis, é então iniciada a montagem do mesmo, recorrendo durante esta fase a diversos controlos de qualidade. No final da montagem o motor é enviado para o banco de ensaio onde executa os ensaios de validação operacional e de performance, antes de ser certificado. Este processo é acompanhado pelas equipas de Engenharia, Planeamento e Controlo, que suportam a equipa de Produção em todas as etapas.

VE - De que modo esta área concorre para o sucesso da TAP, ou, dito de outro modo, qual o fator diferenciador desta área?
NS -
A Oficina de Motores (e todas as Áreas que connosco interagem, desde Logística, Procurement, Qualidade, Finanças, Comerciais, Recursos Humanos, etc.) tem um papel fundamental na TAP, uma vez que não só permite uma maior flexibilidade operacional e significativa redução nos custos da Manutenção dos Motores da Frota TAP, como também é uma Área que contribui fortemente de forma positiva para o resultado financeiro da TAP, na medida em que o trabalho para clientes externos representa habitualmente cerca de 70% do volume, e esse negócio é extraordinariamente positivo. Estes resultados só são possíveis devido à experiência acumulada existente e à constante procura de otimização de processos e metodologias de reparação.

VE - Sendo a TAP uma empresa que aposta na sustentabilidade e se foca em questões ambientais, de que modo estes novos motores contribuem para esse posicionamento?
NS -
Os novos motores da frota de médio curso (Motores CFM Leap 1A) são realmente mais “amigos do ambiente”, graças às mais recentes tecnologias utilizadas desde a sua conceção até à produção. São menos poluentes, mantendo níveis semelhantes de operacionalidade e performance. De igual forma, a TAP em geral e a Manutenção de Motores, em particular, tem apostado na utilização de processos de reparação com menor impacte ambiental, assegurando o cumprimento dos rigorosos requisitos estabelecidos na sua Licença Ambiental, emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente.
Importa referir também que, sempre que se verifica uma intervenção mais profunda nas instalações, são tidos em conta critérios de melhoria do desempenho ambiental. No caso concreto da Oficina de Motores, foi realizada recentemente intervenção na cobertura, com substituição de 20% de placas opacas substituídas por placas translúcidas, melhorando a luz natural nas instalações e reduzindo o consumo de energia associado à iluminação.

Investimentos têm rápido retorno
VE - Como vê o futuro desta área?
NS -
A Manutenção de Motores da TAP, sendo uma atividade altamente lucrativa, tem naturalmente todas as condições para continuar a sua operação nas próximas décadas. Reflexo disso é a aposta atual que a TAP está a fazer na capacitação da Oficina de Motores para a reparação total (overhaul) dos motores Leap 1A (motores que equipam os novos aviões Airbus A320neo). Estes investimentos, de elevada envergadura, rapidamente trazem o retorno esperado, permitindo também a evolução da capacidade tecnológica e a fixação no nosso país dos melhores técnicos e engenheiros.

VE - Como vê o futuro da indústria aeronáutica no geral e também num momento em que se abordam energias alternativas e de elétricos como vês o futuro da aviação?
NS -
A indústria aeronáutica certamente continuará a sua evolução, mantendo o foco na segurança, redução do impacto ambiental e otimização de custos. Todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos maiores players da Indústria na Manutenção Preditiva, utilização de bio-combustíveis e desenvolvimento de novas tecnologias são alguns exemplos. Naturalmente que as energias alternativas (motores elétricos, hidrogénio, etc.) estão também em análise, mas penso que a sua implementação em massa na Indústria Aeronáutica deverá demorar ainda algumas décadas.

VE - Qual a importância da área de TI no vosso negócio?
NS -
Em qualquer atividade de elevada especialização, o suporte das Tecnologias de Informação é fulcral para a operação, gestão e controlo dos processos. Na Manutenção de Motores todo o suporte em termos de TI é fornecido internamente pela TAP, tendo vindo a desenvolver ao longo dos últimos 35 anos o sistema de suporte operacional “Genesis”. Este sistema, de elevada complexidade, permite toda a Gestão do processo produtivo, desde a abertura dos eventos, controlo de fases, controlo de materiais e de configuração, até ao fecho do evento e fornecimento da informação necessária para a faturação do mesmo. Após vários benchmarkings efetuados no mercado, concluímos que na indústria não existe ainda nenhum software “offtheshelf” com estas características.

VE - Quais os projetos mais inovadores que já foram criados nesta direção?
NS -
Para além do já referido software Genesis, temos vindo a desenvolver diversos projetos inovadores nas áreas de Produção, como novas metodologias de remoção de módulos ou de reparação de peças.
Também ao nível do controlo de material, desenvolvemos em conjunto com a Área de IT (Digital & Technology Services) da TAP e com um fabricante de Aviões o nosso sistema RFID de controlo/localização de peças. Uma vez que cada motor tem cerca de 2500 peças e na Oficina temos habitualmente mais de 30 motores, controlar mais de 75000 peças é uma tarefa complexa. Desta forma, o controlo RFID veio permitir saber quase em tempo real a localização de cada peça, em que fase de reparação se encontra, e verificar os conjuntos de peças antes da fase de montagem, em cerca de 15% do tempo.

VE - Qual é o projeto ou projetos que gostarias ainda de desenvolver?
NS -
Para além do projeto de capacitação para a reparação dos motores Leap-1A da nova frota da TAP, que estamos a desenvolver, gostaria ainda de poder vir a concretizar o projeto de Expansão da Oficina de Motores, que permitirá um maior volume de trabalho para terceiros e, consequentemente, um aumento significativo do resultado financeiro para a TAP e para o país.

VE - O setor da aviação exige uma constante inovação, trabalho em equipa e cooperação entre todas as áreas, a par de formação constante e conhecimentos técnicos profundos, além de soft-skills especificas. Para as novas gerações que pretendem abraçar este setor da aviação, qual a mensagem que gostavas de lhes deixar sobre a TAP e este setor tão específico e importante?
NS -
Em primeiro lugar, é importante mencionar que nesta atividade o crescimento profissional é elevado, uma vez que trabalhamos com tecnologia avançada, de elevado valor e em constante evolução. Naturalmente, as funções exercidas estão sempre acompanhadas por um elevado nível de rigor e dedicação. Para quem pretende exercer a sua atividade profissional neste ramo e nesta empresa, certamente encontrará um ótimo ambiente de trabalho, onde poderá crescer profissionalmente, com o apoio de todos os profissionais desta casa, e onde verá reconhecido o seu desempenho.
JORGE FARROMBA (jorgefarromba@gmail.com), 16/11/2022
Partilhar
Comentários 0