“Portugal continua a atrair investimento alemão” ;

Maria de Lurdes Sousa, responsável do Escritório de Representação da CGD na Alemanha, indica
“Portugal continua a atrair investimento alemão”
“Parece-me indiscutível que ‘Portugal está na moda’”, defende Maria de Lurdes Sousa.
O nosso país continua a atrair investimento da Alemanha, de acordo com Maria de Lurdes Sousa, responsável do Escritório de Representação da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na Alemanha. “Não obstante esta concorrência a Leste, Portugal continua a atrair investimento alemão, sobretudo pelo reconhecimento e procura de talento dos seus quadros qualificados na área das engenharias. São vários os projetos, quer de centros de investigação e desenvolvimento, quer de competência mundial, que têm vindo a ser fixados em Portugal, sendo exemplos desta realidade empresas como a Daimler, Siemens e Bosch”, refere, em entrevista à “Vida Económica”.
Em sentido contrário, a Alemanha é um destino de excelência das exportações portuguesas, de acordo com a mesma fonte. “Mais de três mil empresas portuguesas exportaram para a Alemanha em 2017; mais de 1500 empresas portuguesas marcam presença, todos os anos, em cerca de 100 feiras alemãs, nomeadamente: Heimteixteil, Prowein, Fruitlogistica, Ambiente”, aponta.
Vida Económica – Quais são os principais segmentos da atividade da CGD na Alemanha?
Maria de Lurdes Sousa – A CGD está presente na Alemanha desde 1996 através de um Escritório de Representação, com sede em Berlim e atendimentos regulares em Hamburgo, Colónia, Estugarda, Munique e Frankfurt. Esta presença permite-nos acompanhar as famílias portuguesas residentes na Alemanha, quer no seu esforço de poupança, quer no apoio à realização dos seus sonhos e projetos pessoais de investimento em Portugal. Dada a presença internacional da CGD, também as famílias oriundas dos PALOP, aqui residentes, privilegiam a rede Caixa na sua escolha de parceiro bancário. A par com o trabalho desenvolvido junto da comunidade portuguesa, procuramos também sinalizar oportunidades de negócio e captar investidores alemães que se mostram cada vez mais interessados e com confiança na economia portuguesa. O escritório é ainda um importante ponto de contacto da Caixa no apoio à internacionalização de empresas portuguesas para o mercado alemão.
 
VE – O que pensa sobre o potencial de poupança e investimento da comunidade portuguesa?
MLS – A comunidade portuguesa está presente na Alemanha, em número mais significativo, desde 1964, quando os portugueses emigraram aos milhares ao abrigo do acordo “Gastarbeiterprogramm”, um acordo do trabalhador convidado, celebrado entre os governos de Portugal e da Alemanha, à semelhança do que aconteceu com outros países do sul da Europa e da Turquia, com o objetivo de suprir as necessidades de recursos no setor da indústria alemã. Atualmente, a comunidade portuguesa apresenta uma grande heterogeneidade geográfica, etária e de qualificações, convivendo a referida primeira geração de emigrantes, e respetivos descendentes, com as últimas vagas migratórias, fortemente acentuadas pela crise económica de 2010, caracterizadas por jovens quadros com formação superior. Os últimos dados disponíveis apontam para uma presença de portugueses na Alemanha de, aproximadamente 140 mil residentes, especialmente concentrados no Estados de Renânia-Vestefália, Baden-Vurtemberga, mas também nas cidades de Frankfurt, Munique, Berlim e Hamburgo. Com o desemprego em cerca de 5%, o nível mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial, oportunidades nos mais diversos setores de atividade e as boas remunerações praticadas no país, é natural que a Alemanha continue a atrair portugueses, que aqui se fixam sem dificuldade. Essa comunidade, bem integrada e no pleno uso da cidadania inerente a um país da zona euro, tem uma ótima capacidade de aforro e reinvestimento em Portugal, país onde estão as suas raízes e vínculos familiares.
 
VE – Considera que o mercado alemão é atrativo para os produtos portugueses?
MLS – Não há qualquer dúvida que sim. Desde logo, pela sua dimensão, com cerca de 83 milhões de consumidores, mas, essencialmente, pela sua prosperidade e dinâmica. A Alemanha é a maior economia da Zona Euro, a quarta economia mundial e o terceiro maior cliente das exportações portuguesas. Reforço ainda o seguinte: mais de três mil empresas portuguesas exportaram para a Alemanha em 2017; mais de 1500 empresas portuguesas marcam presença, todos os anos, em cerca de 100 feiras alemãs, nomeadamente: Heimteixteil, Prowein, Fruitlogistica, Ambiente.
 
VE – De que forma a banca e em particular a CGD podem apoiar as trocas comerciais e o investimento?
MLS – A CGD está presente em 22 países e tem um compromisso bem definido de suporte ao desenvolvimento das empresas exportadoras. Apoiamos as empresas no seu caminho para a internacionalização, com uma oferta financeira global e inovadora, mas também com a diferenciação específica de sermos o único grupo bancário a nível mundial com presença em vários países da CPLP – Angola, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe. A Caixa apoia ainda as empresas portuguesas exportadoras, que visam crescer no mercado alemão, e o seu esforço de internacionalização, através de uma ampla rede de balcões e gestores especializados em Portugal, estabelecendo parcerias com os principais bancos alemães e marcando presença na Alemanha através do Escritório de Representação em Berlim e dos atendimentos regulares em Hamburgo, Colónia, Estugarda, Munique e Frankfurt.
 
VE – O facto de a Alemanha estar próxima de países da Europa de Leste com custos salariais baixos limita o investimento na indústria em Portugal?
MLS – A captação de investimento direto alemão pelos países do Leste da Europa é beneficiada, para além da concorrência, pelos custos salariais, pela proximidade geográfica e por uma maior afinidade cultural e de cultura de negócios com estes países, que possuem recursos humanos, em maior número, fluentes na língua alemã. Não obstante esta concorrência a Leste, Portugal continua a atrair investimento alemão, sobretudo pelo reconhecimento e procura de talento dos seus quadros qualificados na área das engenharias. São vários os projetos, quer de centros de investigação e desenvolvimento, quer de competência mundial, que têm vindo a ser fixados em Portugal, sendo exemplos desta realidade empresas como a Daimler, Siemens e Bosch.
 
VE – Apesar da subida de preços, o imobiliário turístico em Portugal continua a ser atrativo para a comunidade portuguesa e para os alemães?
MLS – Parece-me indiscutível que “Portugal está na moda” e a grande subida do número de turistas também oriundos da Alemanha, – que ocupou em 2017 o segundo lugar como mercado emissor de turistas para Portugal, com uma quota de 13,6% – veio beneficiar a imagem do país e a atratividade para os investidores que, muitas vezes, tomam a decisão de investimento depois de uma experiência bem-sucedida de visita ao país. Através de conversas com os nossos clientes e acompanhando os “media” na Alemanha é percetível que, para além da beleza natural e dos aspetos mais atraentes da nossa cultura, o país é visto como seguro e com índices de desenvolvimento elevados. Existe ainda uma grande confiança na evolução positiva da nossa economia, o que é fundamental para que os agentes continuem a investir em Portugal.
 
VE – Quais considera ser os melhores e boas práticas na Alemanha que Portugal poderia seguir?
MLS – Algumas características da cultura germânica poderiam trazer bons resultados se aplicadas na gestão portuguesa. Para além do famoso “rigor alemão”, julgo que há outros aspetos muito interessantes e distintivos a considerar, como: a existência do ensino dual – que favorece a integração no mercado de trabalho; a ligação estreita entre o trabalho de investigação nas universidades e a sua aplicação na inovação na indústria; a forma de trabalharem cooperativamente com outros parceiros, de que são exemplos a fileira automóvel ou o acompanhamento que é dado pelas IHK (câmaras de comércio alemãs) aos empresários alemães.

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