Gondomar vai triplicar área para a instalação de empresas;

Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, garante
Gondomar vai triplicar área para a instalação de empresas
Marco Martins admite que o turismo está num processo de forte crescimento no concelho de Gondomar.
O Plano Diretor Municipal (PDM) de Gondomar prevê triplicar a capacidade de solo para a instalação de empresas. Serão mais cerca de 100 hectares para a atividade empresarial, com vista a dar resposta à procura que se verifica atualmente. Marco Martins, presidente da Câmara Municipal de Gondomar, sublinha ainda a aposta na requalificação urbana, no desenvovlvimento dos parques urbanos e na recuperação do tecido escolar. A captação de investimento estrangeiro é outra das prioridades do autarca.
Vida Económica – Neste momento, quais são os setores de atividade mais relevantes no concelho de Gondomar?
Marco Martins –
Por questões históricas, Gondomar esteve muito ligado à ouriversaria e à marcenaria. Hoje em dia, há três setores que subsistem e que têm grande projeção em termos industriais. A ourivesaria mantém-se e envolve cerca de três mil postos de trabalho diretos e indiretos. A metalomecânica é outra indústria bastante relevante e há ainda a destacar a indústria do mobiliário. Neste caso, o grupo Boca do Lobo assumiu uma grande relevância, devido ao filme “As 50 sombras de Grey”. Esta indústria emprega cerca de quatro mil pessoas e a exportação de mobiliário já representa muitos milhões de euros. Há ainda algumas indústrias de ponta, como é o caso da empresa Ricardo Barbosa, que está a desenvolver com a armada o projeto do primeiro ventilador nacional. Este projeto está a ser desenvolvido totalmente em Gondomar. Uma outra indústria que se está a desenvolver neste momento, e fruto da promoção do concelho e da sua mudança de imagem, é a do turismo, que tinha muito pouca expressão em Gondomar. Hoje já existe um hotel, apesar da proximidade ao Porto, e cerca de 70 casas de alojamento local. Paralelamente, o turismo ligado ao Douro está em crescimento, sendo de destacar o novo cais da Douro Azul, que passou a ter aqui a sua base de operações.

VE – É um facto que a marginal do Douro tem passado por uma grande transformação…
MM –
Quando assumimos a Câmara em 2013, já existia o percurso do Pólis, desde o Freixo até Gramido, mas estava num estado de abandono. Hoje é um trajeto que tem vida, com jardins bem tratados e bares, sendo que engata na atual rede de percursos que está a ser construída, numa extensão de 20 km, dos quais só faltam executar três. Queremos potenciar a convivência do cidadão não só com o Rio Douro, mas também com os rios Tinto e Torto e o conjunto de linhas de água existentes e que estão a ser aproveitadas para desenvolver ciclovias e passadiços. O objetivo é atrair não só o cidadão de Gondomar, mas de todo o Grande Porto.

VE – Quais as prioridades, em termos de investimentos, por parte da autarquia?
MM –
A autarquia definiu três linhas principais de atuação do ponto de vista financeiro. Uma respeita à requalificação urbana e à recuperação de equipamentos. Uma segunda tem a ver com a rede de parques urbanos (dois parques urbanos estão em funcionamento e quatro em obra) e a terceira refere-se à requalificação da rede escolar. Já requalificámos mais de 25 escolas e outras sete estão em obra. Depois há outras apostas, como é o caso da habitação social, mas o grande “boom” do investimento da autarquia, neste momento, incide na requalificação dos parques urbanos, dos passadiços, dos arruamentos e do tecido escolar.

Estimular o empreendedorismo

VE – Qual o impacto do Portugal 2020, nas vertentes dos investimentos privado e público, em Gondomar?
MM –
Para dar resposta à questão temos de recuar cinco ou seis anos no tempo, quando houve uma “guerra” entre autarcas e a CCRN quanto à alocação de verbas e que levou à demissão do então presidente daquela comissão. O grande problema é que o programa esteve parado sob o ponto de vista de regras e avisos. Depois, as autarquias colocaram o programa em marcha, lançando os seus projetos e concursops. Entretanto, tudo se atrasou porque a CCRN se lembrou de exigir a revisão de projetos acima dos 600 mil euros. Quando se começou a executar o 2020 em força no terreno veio a pandemia e a falta de mão de obra, bem como a dificuldade em executar obra. Por um lado, os concursos ficam desertos e têm de ser repetidos e, por outro, quando se consegue a adjudicação, os empreiteiros têm dificuldades para cumprirem os prazos. A falta de matéria-prima está a bloquear as indústrias e tal reflete-se também no que é a obra pública.

VE – Como pretende a Câmara estimular o empreendedorismo e a atividade empresarial?
MM –
Temos utilizado a Câmara como um dinamizador da atividade empresarial. Criámos um centro de incubação de empresas, sobretudo ligadas à ourivesaria, e temos feito a promoção externa do município e das suas indústrias em várias feiras nacionais e internacionais e temos reduzido as taxas para as empresas e para quem cria postos de trabalho. O grande salto qualitativo que Gondomar vai dar, sobretudo com a ajuda da autarquia, passa pela revisão do atual PDM, em que será triplicada a capacidade de solo para a atividade empresarial. Temos registado uma grande procura de indústrias que cá se querem instalar e o PDM é restritivo. A revisão está em curso e vai triplicar em cerca de 100 hectares as áreas empresariais. Será assim possível criar mais indústrias e mais emprego, com os preços a serem regulados por baixo para a atividade empresarial.

Criar impacto na economia local

VE – Como encara a autarquia a atratividade de PME para a região?
MM –
Tudo o que é para criar impacto na economia local é importante. Temos empresários que querem criar indústrias de 500 m2 e outros de 20 mil m2. Tentamos criar um equilíbrio para que se possam instalar e se possam complementar. Por outro lado, o investimentro estrangeiro também assume especial relevância para a região. Recentemente, houve a captação de um investimento de capitais indianos e holandeses (a Métis), localizado na freguesia de São Cosme e que vai criar mil postos de trabalho qualificado na área da engenharia informática. Pode ser a porta de entrada para captar mais investimento estrangeiro. A obra está em execução e numa primeira fase trata-se de um investimento de 10 milhões de euros. Ainda até ao final do ano devedrão ser criados 500 postos de trabalho, Trata-se de um salto qualitativo na empregabilidade e na regeneração urbana na envolvente do local de investimento. Estes projetos podem ainda atrair novos públicos, novos residentes e requalificar Gondomar com a vinda de cidadãos nacionais e estrangeiros.

VE – E como se posiciona o concelho de Gondomar em termos de impostos e taxas municipais?
MM –
Posso afirmar que nos posicionamos no segundo quartil mais baixo. Neste momento, temos isenção de taxas de construção e licenciamento de 10% por cada 10 postos de trabalho criados, na derrama contamos com dois escalões, de 0,75 pontos até um volume de negócios de 150 mil euros e de 1,25 acima desse valor. No IMI temos uma taxa diferenciada, sendo mais baixa no alto concelho do que na zona urbana. Trata-se também de um fator de atratividade e de fixação dos empresários nas zonas mais do interior.

VE –Quando se trata de criar emprego e captar investimento não há espaço para a ideologia?
MM –
Nós, autarcas, temos é de estar ao serviço das populações e colocar de lado as questões mais políticas e ideológicas. Temos sobretudo de criar e fixar investimento para os nossos territórios. Essa é a nossa obrigação, seja qual for a proveniência ideológica ou partidária do autarca.

VE – No nosso país há um défice de formação profissional e alguma desmotivação entre os trabalhadores. Como se podem contrariar estes pontos fracos?
MM –
Portugal tem de se atualizar do ponto de vista salarial e remuneratório ao nível do resto da Europa, sobretudo em relação a Espanha e França. Tal não só é possível com a qualificação dos recursos humanos, não necessariamente ao nível do ensino superior, já que há falta de colaboradores de qualificações intermédias. O país vai ter de fazer o caminho de se qualificar aos vários níveis para acrescentar valor ao que exporta. Temos de exportar mais e de pagar melhor aos colaboradores das várias áreas da ciência e do saber.
Guilherme Osswald/João Luis de Sousa, 02/09/2021
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