Interim Management pode ser de terminante para a concretização dos projetos das empresas
“O impacto da atual crise está a acelerar alterações no mercado de trabalho, abrindo espaço para o Interim Management, tanto mais que uma grande preocupação dos empresários é a redução dos custos fixos recorrentes”, afirma Paulo Jorge, fundador e “managing partner” da EasyTalent.
O Interim Management é um serviço orientado para a implementação de melhorias ou resolução dos problemas que se verificam na cadeia de valor das empresas.
Está prevista a criação de uma associação para esta área de atividade.
Vida Económica - Em que consiste o Interim Management?
Paulo Jorge - O Interim Management é uma das nove novas formas de trabalho consagradas pela União Europeia e uma Solução de Gestão que surgiu na Holanda, nos anos 70 do século XX, na ressaca da crise provocada pelo choque petrolífero e numa fase em que o mercado de trabalho conhecia alguma rigidez.
O Interim Management está implementado nas principais economias mundiais, mas está ainda numa fase embrionária em Portugal, apesar das várias tentativas de disseminação do conceito entre nós que se registaram nos anos 1990 e 2000.
O Interim Management é uma solução para a implementação de melhorias ou resolução dos problemas que se verificam na cadeia de valor das empresas através da execução de um plano de ação ou concretização de um projeto específico acordado com a empresa, com âmbito e duração predefinidos, executado por um ou mais profissionais experientes, qualificados, absolutamente “hands-on”, habituados a gerir em situações de crise e com a senioridade suficiente para serem bem-sucedidos. Estes profissionais chamam-se “Interim managers”.
No final do mandato a empresa ficará mais competitiva e melhor capacitada para enfrentar os seus desafios, sem outros custos ou compromissos adicionais e o “Interim manager” estará disponível para outra missão, noutra empresa, eventualmente noutro setor ou geografia.
A generalidade das missões para onde são chamados a intervir situam-se nas seguintes categorias: Melhoria de Resultados; Excelência Operacional; Internacionalização; Transformação Organizacional; Implementação de Novos Projetos; Capacitação das Equipas; Substituição Temporária de Competências.
VE - A fórmula é mais adequada às grandes organizações ou às pequenas e médias empresas?
PJ - O Interim Management é adequado a todas as organizações independentemente da sua dimensão, setor de atividade económica e ciclo de vida, inclusive “startups”.
Esta fórmula é dotada de uma grande flexibilidade e tem plena aplicação nas empresas em que não existam certas competências ou, existindo, não seja possível a acumulação de novas tarefas com as que atualmente a equipa diretiva desempenha.
As vantagens são muitas, destacando-se o elevado “value for money” que o Interim Management oferece, quando comparado com outras soluções alternativas.
A contratação de Capacidade Diretiva Externa é uma solução com múltiplas vantagens, já que, para além de conhecimento, prática e experiências acumuladas, o Interim Manager traz às empresas um olhar independente, objetivo e descomprometido e uma capacidade de mobilização e envolvimento de toda a equipa que garante o sucesso da concretização dos objetivos inicialmente traçados.
VE - Ao incluir a execução dos projetos o Interim Management pode ser
mais útil às empresas do que a consultoria?
PJ - Uma diferença básica entre a consultoria e o Interim Management é que a primeira é orientada para o aconselhamento, a apresentação de propostas ou a formulação de estratégias, enquanto o Interim Management está orientado para a implementação de soluções, a execução de projetos, a concretização de objetivos.
Isto não quer dizer que não haja Consultores que também implementem a estratégia que desenvolveram previamente e, de igual forma, não haja Interim Managers com a experiência e capacidade de implementar a estratégia ou a solução que inicialmente desenharam.
Ou seja, um Interim Manager é um “expert” que junta as competências de um consultor com capacidade de execução, determinante para o bom sucesso dos planos de ação e concretização dos objetivos dos projetos.
De realçar, no entanto, que consultoria e o Interim Management podem ser atividades complementares: é perfeitamente possível que um Interim Manager execute um plano estratégico desenhado por um consultor ou uma empresa de consultoria.
Contrato de prestação de serviços
VE - Para as empresas, é mais fácil contratar perfis com competências específicas através do Interim, em vez de fazer um processo de recrutamento?
PJ - Depende da função que se pretende preencher. O Interim Management está vocacionado para lugares de Direção, chefias intermédias e profissionais especialistas em determinadas áreas, nomeadamente tecnologias de informação.
Um dos aspetos primordiais que geralmente as empresas procuram é a experiência, que só se consegue garantir de forma imediata em pessoas com um determinado nível de senioridade.
É evidente que também é possível identificar perfis com experiência pela via do recrutamento, mas o processo é muito mais longo e demorado.
As empresas fornecedoras de serviços de Interim Management têm processos de identificação de profissionais muito mais expeditos, garantindo os perfis mais adequados às empresas.
Acresce que, ao contrário dos custos inerentes ao término de um contrato de trabalho tradicional, as responsabilidades da empresa cessam no último dia da missão do “Interim manager”, na medida em que o vínculo deste assenta num contrato de prestação de serviços.
O impacto da atual crise está a acelerar alterações no mercado de trabalho, abrindo espaço para o Interim Management, tanto mais que uma grande preocupação dos empresários é a redução dos custos fixos recorrentes. As equipas tenderão a ser constituídas por colaboradores permanentes, “Interim managers”, contratados a prazo, “freelancers”, etc.
VE - O facto de a missão envolver um projeto e um prazo de execução favorece a obtenção de resultados e reduz os riscos das empresas?
PJ - Sem dúvida. Uma das características do Interim Management é a definição à partida do enquadramento, cronograma de atividades, equipa, prazo de execução e dos objetivos que se pretendem atingir.
Este acordo prévio entre o empresário e o “Interim manager”, a par de um plano de comunicação sobre os impactos da missão e dos resultados a atingir, são fundamentais para o sucesso da missão. É evidente que o envolvimento da direção da empresa é fundamental no acompanhamento do projeto e na tomada de decisão, nomeadamente nas situações de ajustamento e correção ao plano inicialmente traçado
O “Interim manager” é um profissional experiente, com uma grande capacidade de resolução de problemas, de comunicação, motivação e liderança de equipas. Normalmente, é possuidor de um conjunto de competências muito mais abrangentes do que as exigidas para a execução da missão que lhe foi atribuída e, como não ameaça o lugar de ninguém, consegue em muito poucos dias estar preparado para dar início à sua missão e contar com a ajuda e colaboração de todos.
De relevar que o “Interim manager” é o mais interessado no sucesso e concretização dos objetivos do projeto, pois é por este critério por irá ser avaliado e quelhe garantirá a atribuição de uma próxima missão. Daí toda a sua dedicação, profissionalismo e empenhamento na sua execução, entregando os resultados esperados e minimizando os riscos para a Empresa.
VE - Está prevista a criação de uma associação para esta área de atividade?
PJ - Exatamente, está já em atividade uma comissão instaladora da futura Associação Portuguesa de Interim Management, que tem como objetivo central a melhoria da divulgação e a promoção do conceito entre nós.
Integram a comissão instaladora várias entidades coletivas, como a Acumen Consulting, a Easytalent, a Experienced Management, a Lukkap Portugal e a Mistura Singular, bem como um conjunto de “Interim managers” a título individual.
Temos a convicção de que a associação contribuirá para dar uma maior projeção e notoriedade ao Interim Management no nosso mercado, atraindo mais profissionais e, fundamentalmente, o interesse, a curiosidade e o desejo de experimentação por parte dos nossos empresários.
Para além disso, está também em fase de lançamento uma associação que congrega as várias associações de “Interim managers” a nível europeu, que nós também queremos integrar.
O Interim Management pode constituir uma grande alavanca para a melhoria da qualificação e competitividade das nossas empresas, nomeadamente na atual situação de crise agravada, conjuntura onde tradicionalmente encontra terreno fértil para produzir grandes resultados. Simultaneamente, permite capitalizar a “expertise” de um conjunto de profissionais séniores altamente qualificados.
Tudo isto com um impacto extremamente positivo no tecido empresarial, na economia e na sociedade em geral.