Melhoria dos acessos ferroviários é essencial para o Porto de Sines
O Porto de Sines tem ainda bastante potencial de crescimento. No entanto, muito dependerá dos investimentos a realizar nas acessibilidades ferroviárias. Este ano será de recuperação, na perspetiva de José Luís Cacho, presidente da APS. O porto vai continuar a apostar no desenvolvimento do segmento da carga contentorizada, ao mesmo tempo que estão a ser desenvolvidos esforços para captar novas áreas de negócios. José Luís Cacho acredita ainda que existe vontade política para o Governo avançar com os investimentos previstos para o setor portuário.
Vida Económica - Qual a atual situação do mercado portuário, no que toca ao Porto de Sines?
José Luís Cacho - O ano 2019 ficou marcado pela excelente performance do Terminal de Gás Natural de Sines, que registou um crescimento de 44,5%, face ao período homólogo, ultrapassando os quatro milhões de toneladas. Este resultado permitiu reforçar a sua posição de principal porta de entrada de GNL no país, sendo responsável por cerca de 90% do consumo nacional. No entanto, a crescente descarbonização da economia teve impacto nos volumes de movimentação do Porto de Sines, refletindo-se em dois dos principais segmentos de carga, nos granéis líquidos, com as ramas a registarem um decréscimo de 16%, face à redução de receção de matéria-prima por parte da Refinaria de Sines, e nos granéis sólidos, com a redução do recurso ao carvão para produção de energia, privilegiando energias mais limpas, registando um decréscimo de 39%. No que diz respeito à carga contentorizada, e em virtude do realinhamento de alguns serviços de linhas regulares e da renegociação de condições laborais, o Terminal XXI registou um decréscimo de 18,7%, tendo, ainda assim, ultrapassado a barreira dos 1,4 milhões de TEU, preservando a sua posição enquanto principal terminal de contentores do país, com uma quota de 52%. O ano 2020 perspetiva-se como um ano de franca recuperação, tendo em conta a expansão que será levada a cabo pela concessionária PSA Sines, que duplicará a capacidade instalada do terminal para 4,1 milhões de TEU.
VE – Quais as consequências da pandemia na atividade do Porto de Sines?
JLC – Apesar do contexto difícil que atravessamos, o Porto de Sines continua a operar sem quaisquer constrangimentos em todos os seus terminais, pautando-se pelo cumprimento rigoroso das orientações da Autoridade de Saúde, postas em prática pelos Planos de Contingência definidos, sendo de salientar o empenho e esforço acrescido de todos os trabalhadores e demais entidades da sua comunidade portuária neste sentido. No que diz respeito aos índices de movimentação, e pese embora ainda registemos valores ligeiramente abaixo do período homólogo de 2019, o mês de março apresentou sinais de recuperação, principalmente no que diz respeito à carga contentorizada, sinais esses que foram reforçados em abril.
VE - Quais os principais problemas que ainda se colocam à vossa atividade?
JLC - Apesar de o Porto de Sines operar anualmente mais de seis mil comboios, a melhoria das acessibilidades ferroviárias é muito importante para alargar o hinterland e sustentar o crescimento do porto, principalmente no que diz respeito à linha do Sul, pela ligação de Sines a Elvas/Caia, cujas obras decorrem, com o forte comprometimento do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, estando prevista a sua conclusão em dezembro de 2023.
VE- O Porto de Sines continua com potencial para crescer?
JLC - Sem dúvida. As nossas previsões apontam para uma recuperação dos volumes movimentados em 2020, principalmente no que diz respeito à carga contentorizada. Por outro lado, as expectativas apontam também para que o GNL continue a crescer.
Desenvolvimento da carga
contentorizada
VE- Qual a estratégia definida para os próximos tempos?
JLC - Continuaremos a apostar no desenvolvimento da carga contentorizada, com o início das obras de expansão do Terminal XXI, sob a responsabilidade da PSA Sines, que permitirão duplicar capacidade instalada para 4,1 milhões de TEU. Por outro lado, e ainda neste segmento, de recordar que foi lançado o concurso público internacional para a concessão do Terminal Vasco da Gama em outubro de 2019, cuja capacidade rondará os 3,5 milhões de TEU. Para além disso, e em estreita colaboração com a aicep Global Parques (entidade gestora da Zona Industrial e Logística de Sines), estamos neste momento a encetar esforços para a captação de novos oportunidades de negócio para o Terminal Multipurpose, nomeadamente na área do agronegócio. De lembrar que este Terminal está vocacionado para a movimentação de granéis sólidos, principalmente carvão, carga que deixará de ser movimentada nesta infraestrutura em seguimento ao futuro encerramento das centrais termoelétricas de Sines e do Pego.
VE - Quais os investimentos previstos e em curso?
JLC – O ano 2019 cumpriu o importante objetivo de dar continuidade ao crescimento do Porto de Sines no que diz respeito à carga contentorizada, segmento onde ocorrerão os principais investimentos no porto. Em seguimento à assinatura do 5º Aditamento do Contrato com a PSA Sines, arrancarão a curto prazo as obras de expansão do Terminal XXI, sob a responsabilidade da concessionária, que dotarão esta infraestrutura de uma capacidade instalada de 4,1 milhões de TEU, oferecendo uma frente de cais de 1750m, apto a operar simultaneamente quatro dos maiores navios em operação comercial presentemente, com 400 m de comprimento fora a fora, num investimento de cerca de 660 milhões de euros. Em paralelo, a Autoridade Portuária iniciará os trabalhos com vista ao prolongamento do molhe leste em cerca de 750 m, num investimento de 75 milhões de euros, por forma a adequar e salvaguardar a segurança das operações naquele terminal.
Em 2019 foi ainda lançado o concurso internacional para a concessão do Terminal Vasco da Gama, cuja capacidade instalada rondará os 3,5 milhões de TEU, com uma frente de cais de 1375 m, permitindo a operação simultânea de três dos maiores navios em operação comercial presentemente, com 400 de comprimento fora a fora. De salientar que, à semelhança do Terminal XXI, a concessão do futuro Terminal Vasco da Gama será como base o Modelo BOT (Build, Operate, Transfer), ou seja, resultado de investimento totalmente privado, que se prevê na ordem dos 640 milhões de euros. Compete à Autoridade Portuária a construção do molhe de proteção, bem como os acessos rodoferroviários ao terminal, investimento que rondará os 160 milhões de euros.
Comprometimento do Governo
VE - A APS está de acordo com as políticas delineadas pelo Governo para a área portuária?
JLC - O Governo, nomeadamente o atual ministro Pedro Nuno Santos, tem-nos transmitido o seu empenho e comprometimento no desenvolvimento dos portos nacionais e a estratégia apresentada tem objetivos ambiciosos. No que respeita a Sines e com o envolvimento de toda a comunidade portuária, estamos certos de que serão possíveis de atingir.
VE - O que é necessário fazer para tornar a atividade portuária no Porto de Sines ainda mais competitiva?
JLC - O Porto de Sines já possui grandes vantagens competitivas que são determinantes para os bons resultados do porto, nomeadamente a capacidade de receber todo o tipo de navios e movimentar todo o tipo de cargas, assim como a utilização de tecnologia de ponta no despacho de navios e mercadorias. Os equipamentos de última geração e os profissionais qualificados são igualmente decisivos para a elevada produtividade em todos os terminais do Porto de Sines. O Porto de Sines deverá ser, cada vez mais, um porto competitivo, reforçando a oferta portuária, aumentando a produtividade em todas as áreas, apostando na melhoria das infraestruturas, dos equipamentos, dos sistemas de informação e na formação profissional dos seus trabalhadores.