Fundição portuguesa quer ser “bandeira da economia circular”
A indústria portuguesa de fundição “ambiciona ser uma bandeira da economia circular” no país e assume como objetivo estratégico chegar a 2030 com uma “pegada ecológica neutra ou quase neutra”, pela valorização dos resíduos que gera e pelo investimento em eficiência energética. Para tanto, vai
operacionalizar, nos próximos anos, um plano estratégico que congrega o apoio da maioria das 65 empresas fundidoras nacionais, cuja faturação agregada ultrapassa os 602 milhões de euros.
operacionalizar, nos próximos anos, um plano estratégico que congrega o apoio da maioria das 65 empresas fundidoras nacionais, cuja faturação agregada ultrapassa os 602 milhões de euros.
O grande propósito do “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição” é “conciliar desperdício 0 e inovação, transformando o sector num exemplo bem-sucedido da Indústria 4.0 à escala europeia e mundial”, aponta Filipe Villas-Boas, presidente da Associação Portuguesa de Fundição (APF).
Com os investimentos em investigação e inovação, desenvolvimento tecnológico, redução dos consumos energéticos, formação e internacionalização que as empresas têm feito nos últimos anos, com o apoio da sua associação representativa, e as oportunidades que lhe abrem realidades como a digitalização, a robotização e a descarbonização, a indústria portuguesa de fundição assume a “ambição” de passar a “comparar-se com o que melhor se faz, e como se faz, no mundo”, assume o líder associativo. Os impactos esperados traduzir-se-ão, sobretudo, na redução da fatura energética, na valorização dos resíduos, no posicionamento como fornecedor de excelência da indústria automóvel e de outras indústrias de elevada exigência, na melhoria global da imagem do setor e na atração, retenção e formação da mão-de-obra.
“O setor soube aguentar a crise dos últimos anos e está a apetrechar-se para ser protagonista da transformação digital”, realça o presidente da APF, sustentado nas conclusões do trabalho de campo da equipa que elaborou o estudo subjacente ao “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição”. Trata-se de um trabalho do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Católica Porto Business School, coordenado pelo professor catedrático Alberto Castro, que municia o sector com uma estratégia coletiva para “potenciar as suas capacidades e competências”, e “recentrar o papel da fundição na estruturação de uma política de industrialização para o país inteligente, moderna e responsável, ambiental e socialmente”, explica Filipe Villas-Boas.
Para isso, a fundição portuguesa deve tirar partido da “importância qualitativa” que, apesar de “subestimada”, tem para Portugal, já hoje, no âmbito da indústria transformadora, e afirmar o seu processo produtivo como “paradigmático da chamada economia circular”. Poderá, desta forma, induzir no tecido industrial português uma “cultura de simbiose industrial”, incrementando a cooperação com outros setores (fabricantes de produtos cerâmicos de barro vermelho e de pavimentos betuminosos, nomeadamente). O objetivo é atingir, através de “estratégias de eco-inovação”, um grau de “desperdício próximo do 0”, com resíduos e subprodutos, como areias de fundição e escórias, a serem valorizados e utilizados como recursos na própria empresa e ou incorporados na cadeia de valor de outras empresas. É nesse caminho, da redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia que o setor vai prosseguir, tendo o seu plano estratégico como guia para ação.
Um setor de “campeões ignorados” apostado em melhorar a sua imagem
Paralelamente, e para poder continuar a responder à procura internacional, designadamente por parte dos grandes construtores de automóveis, a fundição portuguesa está empenhada em melhorar a sua própria imagem no mercado, que já nada tem a ver com os estereótipos do passado e o universo de Charles Dickens, como se enfatiza no documento que agora é apresentado.
A média global de idades dos seus colaboradores está nos 40 anos, baixando para 38 entre engenheiros e técnicos qualificados. Para a APF, não se justifica, por isso, que esta indústria continue associada a ocupações menos qualificadas e com remunerações baixas, tanto mais que dela fazem parte alguns “campeões ignorados” da economia do país. Pelo contrário: os seus principais clientes, predominantemente estrangeiros, exigem às fundidoras portuguesas certificações de qualidade e de eficiência energética e ambiental com os mais altos ‘standards’, o que só é possível com empresas economicamente saudáveis, tecnologia e processos produtivos evoluídos, quadros qualificados e uma força de trabalho em formação contínua. Não admira, por isso, que nos anos mais recentes tenham entrado em Portugal várias multinacionais – como a indiana Sakthi, que atualmente dá emprego a cerca de 700 pessoas nas suas três unidades industriais, na Maia, Águeda e Trofa.
Só nos últimos dois anos, a fundição portuguesa ganhou sete novos ‘players’, tendo passado de 58 empresas, em 2016, para 65, atualmente, o que representa um crescimento relevante. Do universo sectorial fazem parte 51 operadores de capital inteiramente português e 14 multinacionais, estando a laborar no país 67 unidades fabris. A maioria delas está localizada no corredor Águeda/Braga.
Segundo a APF, o conjunto do setor fatura hoje mais de 602 milhões de euros anuais e assegura cerca de 6040 postos de trabalho. Exporta 91% do que produz (cerca de 548 milhões de euros). Por especialidades, a produção de não ferrosos vale 333 milhões de euros e a de ferrosos 260 milhões. O rácio médio da autonomia financeira no sector é de 28%, mas sobe acima dos 40% se se considerarem apenas as 10 maiores empresas em volume de negócios.
Atrair novos quadros e operários para transformação digital
O plano estratégico setorial aponta para a aproximação das empresas às comunidades locais em que se inserem, promovendo e investindo na melhoria das práticas produtivas e das condições de laboração, para, com isso, obterem ganhos de imagem e alterarem a perceção dos jovens sobre a atividade.
Nessa ótica, a APF e os empresários da fundição vão intensificar o relacionamento com o sistema de ensino e os centros de conhecimento científico, evidenciando à nova geração como funciona, efetivamente, esta indústria – um setor com futuro, que incentiva o mérito e paga em conformidade, é reconhecido internacionalmente e está no pelotão da frente, à escala mundial, na inovação produtiva e na gestão industrial competitiva.
O “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição” reconhece, ainda, que estamos perante um setor com uma dimensão económica relativamente reduzida e insuficiente visibilidade e influência, o que se repercute na capacidade de atração de trabalhadores. Ao invés, trata-se de um setor com tradição e com uma resiliência elevada, dois pontos fortes de uma indústria em que ainda sobressaem várias PME familiares, que se mantêm ativas e são referências para a atividade económica nacional e para as regiões onde estão implantadas, nomeadamente nos concelhos de Braga e de Águeda e na área metropolitana do Porto.
Com os investimentos em investigação e inovação, desenvolvimento tecnológico, redução dos consumos energéticos, formação e internacionalização que as empresas têm feito nos últimos anos, com o apoio da sua associação representativa, e as oportunidades que lhe abrem realidades como a digitalização, a robotização e a descarbonização, a indústria portuguesa de fundição assume a “ambição” de passar a “comparar-se com o que melhor se faz, e como se faz, no mundo”, assume o líder associativo. Os impactos esperados traduzir-se-ão, sobretudo, na redução da fatura energética, na valorização dos resíduos, no posicionamento como fornecedor de excelência da indústria automóvel e de outras indústrias de elevada exigência, na melhoria global da imagem do setor e na atração, retenção e formação da mão-de-obra.
“O setor soube aguentar a crise dos últimos anos e está a apetrechar-se para ser protagonista da transformação digital”, realça o presidente da APF, sustentado nas conclusões do trabalho de campo da equipa que elaborou o estudo subjacente ao “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição”. Trata-se de um trabalho do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Católica Porto Business School, coordenado pelo professor catedrático Alberto Castro, que municia o sector com uma estratégia coletiva para “potenciar as suas capacidades e competências”, e “recentrar o papel da fundição na estruturação de uma política de industrialização para o país inteligente, moderna e responsável, ambiental e socialmente”, explica Filipe Villas-Boas.
Para isso, a fundição portuguesa deve tirar partido da “importância qualitativa” que, apesar de “subestimada”, tem para Portugal, já hoje, no âmbito da indústria transformadora, e afirmar o seu processo produtivo como “paradigmático da chamada economia circular”. Poderá, desta forma, induzir no tecido industrial português uma “cultura de simbiose industrial”, incrementando a cooperação com outros setores (fabricantes de produtos cerâmicos de barro vermelho e de pavimentos betuminosos, nomeadamente). O objetivo é atingir, através de “estratégias de eco-inovação”, um grau de “desperdício próximo do 0”, com resíduos e subprodutos, como areias de fundição e escórias, a serem valorizados e utilizados como recursos na própria empresa e ou incorporados na cadeia de valor de outras empresas. É nesse caminho, da redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia que o setor vai prosseguir, tendo o seu plano estratégico como guia para ação.
Um setor de “campeões ignorados” apostado em melhorar a sua imagem
Paralelamente, e para poder continuar a responder à procura internacional, designadamente por parte dos grandes construtores de automóveis, a fundição portuguesa está empenhada em melhorar a sua própria imagem no mercado, que já nada tem a ver com os estereótipos do passado e o universo de Charles Dickens, como se enfatiza no documento que agora é apresentado.
A média global de idades dos seus colaboradores está nos 40 anos, baixando para 38 entre engenheiros e técnicos qualificados. Para a APF, não se justifica, por isso, que esta indústria continue associada a ocupações menos qualificadas e com remunerações baixas, tanto mais que dela fazem parte alguns “campeões ignorados” da economia do país. Pelo contrário: os seus principais clientes, predominantemente estrangeiros, exigem às fundidoras portuguesas certificações de qualidade e de eficiência energética e ambiental com os mais altos ‘standards’, o que só é possível com empresas economicamente saudáveis, tecnologia e processos produtivos evoluídos, quadros qualificados e uma força de trabalho em formação contínua. Não admira, por isso, que nos anos mais recentes tenham entrado em Portugal várias multinacionais – como a indiana Sakthi, que atualmente dá emprego a cerca de 700 pessoas nas suas três unidades industriais, na Maia, Águeda e Trofa.
Só nos últimos dois anos, a fundição portuguesa ganhou sete novos ‘players’, tendo passado de 58 empresas, em 2016, para 65, atualmente, o que representa um crescimento relevante. Do universo sectorial fazem parte 51 operadores de capital inteiramente português e 14 multinacionais, estando a laborar no país 67 unidades fabris. A maioria delas está localizada no corredor Águeda/Braga.
Segundo a APF, o conjunto do setor fatura hoje mais de 602 milhões de euros anuais e assegura cerca de 6040 postos de trabalho. Exporta 91% do que produz (cerca de 548 milhões de euros). Por especialidades, a produção de não ferrosos vale 333 milhões de euros e a de ferrosos 260 milhões. O rácio médio da autonomia financeira no sector é de 28%, mas sobe acima dos 40% se se considerarem apenas as 10 maiores empresas em volume de negócios.
Atrair novos quadros e operários para transformação digital
O plano estratégico setorial aponta para a aproximação das empresas às comunidades locais em que se inserem, promovendo e investindo na melhoria das práticas produtivas e das condições de laboração, para, com isso, obterem ganhos de imagem e alterarem a perceção dos jovens sobre a atividade.
Nessa ótica, a APF e os empresários da fundição vão intensificar o relacionamento com o sistema de ensino e os centros de conhecimento científico, evidenciando à nova geração como funciona, efetivamente, esta indústria – um setor com futuro, que incentiva o mérito e paga em conformidade, é reconhecido internacionalmente e está no pelotão da frente, à escala mundial, na inovação produtiva e na gestão industrial competitiva.
O “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição” reconhece, ainda, que estamos perante um setor com uma dimensão económica relativamente reduzida e insuficiente visibilidade e influência, o que se repercute na capacidade de atração de trabalhadores. Ao invés, trata-se de um setor com tradição e com uma resiliência elevada, dois pontos fortes de uma indústria em que ainda sobressaem várias PME familiares, que se mantêm ativas e são referências para a atividade económica nacional e para as regiões onde estão implantadas, nomeadamente nos concelhos de Braga e de Águeda e na área metropolitana do Porto.
Tendências protecionistas são ameaça ao setor
Em reação à crise despoletada nos últimos anos da década passada, as fundições portuguesas souberam adaptar-se ao novo contexto económico internacional e alargaram o seu radar comercial, para se afirmarem como marcadamente exportadoras. Estão, por isso, prontas a competir no mercado global e nos setores mais avançados tecnologicamente, como é o caso das indústrias automóvel, ferroviária e aeronáutica, de máquinas-ferramenta, da construção civil e de equipamentos domésticos. Mas há ameaças a superar: a intensificação da concorrência internacional e a tendência protecionista evidente em algumas das maiores economias europeias e mundiais podem ser um travão ao processo de expansão no exterior e à conquista de mais quota de mercado. Ao mesmo tempo, há que contar com os preços da energia, o quadro regulatório decorrente do cumprimento das metas ambientais a atingir por Portugal e pelos restantes estados da União Europeia até 2030 e a situação demográfica do país. Nesse sentido, o “Plano Estratégico para a Indústria Portuguesa de Fundição” deixa claro que o futuro imediato passa por ações orientadas para a captação de novos mercados e negócios (criando produtos inovadores e aumentando a presença internacional), pelo reforço dos programas de investigação e desenvolvimento e pelo investimento em equipamentos produtivos e soluções próprias da Indústria 4.0. A nível funcional, as empresas de fundição devem avançar, se economicamente vantajoso, para compras conjuntas de energia e projetos comuns de inserção, envolvendo estabelecimentos de ensino e o sistema científico e tecnológico nacional, para sensibilização das comunidades onde estão implantadas e demonstrarem as potencialidades de uma indústria que consegue aliar tradição e futuro. |