Maioria dos financiamentos às empresas tem valor abaixo de 25 mil euros
O crédito bancário às microempresas aumentou mais de 500 milhões de euros – revelam os dados do Boletim estatístico do Banco de Portugal. Em abril de 2018 a carteira de crédito bancário nas microempresas atingiu 23855 milhões de euros, quase 600 milhões de euros mais do que em dezembro passado. Esta tendência confirma que a recuperação do crédito está a ser feita com uma maior aposta nas microempresas.
Mais de metade das operações de financiamento às empresas tem um valor inferior a 25 mil euros. Os dados do Boletim Estatístico de maio do Banco de Portugal confirmam o crescimento de operações de crédito com valores reduzidos. O crédito concedido às microempresas teve em abril de 2018 uma taxa de variação anual de 2,3%. Em dezembro passado, registara uma variação positiva de 0,5% após um período de quebra constante ao longo dos últimos sete anos.
A recuperação no segmento das microempresas não chegou para inverter a variação negativa do crédito total às empresas. A quebra em abril passado foi de 1,8%, valor que sendo negativo é melhor que a quebra de 2,9% registada em abri de 2017.
O crédito às microempresas foi o que mais reduziu com a intervenção da Troika a partir de 2011 e manteve a tendência negativa após o fim do programa de assistência externa.
Em março de 2011, o financiamento bancário às microempresas era de 37707 milhões de euros mas foi caindo de forma contínua até aos 23 mil milhões de euros. Nestes sete anos as microempresas perderam mais de 14 mil milhões de euros, sendo o segmento onde a desalavancagem no crédito foi mais acentuada.
Bancos preferem financiamentos de pequenos montantes
O aumento do crédito às microempresas reflete uma maior predisposição dos bancos em fazer operações de baixos montantes. “Desta forma, os bancos conseguem uma maior dispersão dos riscos e obter melhores margens”, explicou um gestor bancário à “Vida Económica”. Em operações de crédito às empresas de baixo valor, os bancos conseguem aplicar spreads de 7% ou 8%, quando a taxa de juro média no crédito às empresas é de 2,41% ao ano. A taxa de juro média na zona Euro é 1,56%. E nas operações acima de um milhão de euros a taxa média cobrada pelos bancos portugueses é 1,86% ao ano.
Nas microempresas, os bancos são confrontados com um nível de incumprimento mais elevado. Em abril de 2018, o crédito em incumprimento nas microempresas representou 22,1% da carteira total, que compara com 7,2% nas médias empresas e 3,4% nas médias empresas.
Mas, apesar do nível de incumprimento ser mais elevado, a recuperação do crédito pode ser mais fácil e menos dispendiosa. “Quando os bancos se vêem obrigados a recorrer aos tribunais para executar créditos em incumprimento têm de suportar despesas judiciais elevadas e dificilmente recuperam a totalidade dos valores em divida. Para executar um crédito de baixo valor a uma empresa pode ser uma injunção que é um processo expedito e com baixos custos. No cenário frequente de crédito bancário para a compra de automóveis, em caso de incumprimento a empresa é confrontada com a apreensão dos carros, e tenta encontrar uma solução que permite ao banco recuperar os valores em dívida” – referiu o gestor bancário.
Queda de crédito a estabilizar
Além da recuperação do crédito no segmento das microempresas, há outros sinais que apontam para o fim da contração do crédito concedido. O crédito às grandes empresas recuperou em março e em abril de 2018 depois de ter atingido em dezembro passado um mínimo histórico abaixo dos 10 mil milhões de euros. Atualmente, a carteira de crédito é de 10.388 com uma taxa de variação anual positiva de 1,5%, o que não acontecia desde 2011. Menos favorável é a taxa de incumprimento das grandes empresas que atingiu 3,4% em abril, o valor mais elevado de sempre. E significa que as grandes empresas enfrentam mais dificuldade em cumprir o serviço da dívida.
No segmento das pequenas empresas, a variação anual foi negativa em 1,5%, o que não deixa de antever alguma recuperação, já que em abril de 2017 a contração tinha sido de 3,3%. Assim, será provável que o crédito às pequenas empresas inverta durante este ano o ciclo negativo iniciado em 2011. O nível de incumprimento deste segmento baixou de 13,7% em abril de 2017 para 21,1% em abril de 2018.
A evolução mais desfavorável está no crédito às médias empresas, com uma taxa negativa de 8% registada em abril de 2018. Nos últimos 12 meses, as médias empresas viram o crédito diminuir em mais de 1800 milhões de euros. Se não fosse o contributo negativo do segmento das médias empresas, a carteira total de crédito às empresas já teria registado uma evolução positiva, apesar de muito ligeira, o que aconteceria pela primeira vez desde 2011.
Em paralelo com a queda da carteira de crédito, houve uma redução da taxa de incumprimento das médias empresas de 10,3% para 7,2% entre abril de 2017 e abril de 2018, o que pode significar que uma parte da redução da carteira de crédito se deve à “limpeza” de dívidas em incumprimento que foram consideradas irrecuperáveis por parte dos bancos.