“Luximos Christie’s terminou o ano com um acréscimo de vendas de 10% e este ano está acima deste valor”;

Agência atua no mercado de luxo
“Luximos Christie’s terminou o ano com um acréscimo de vendas de 10% e este ano está acima deste valor”
A consultora representa a Christie’s International Real Estate, agência imobiliária de referência no segmento de luxo, no Porto, no Norte de Portugal e no Algarve. A afiliada portuguesa da prestigiada casa britânica Christie’s tem escritórios abertos a Norte, na Foz do Douro, e a Sul, no coração do Triângulo Dourado, entre Vilamoura e Vale do Lobo.
Em entrevista, Ricardo Costa, CEO da Luximos Christie’s, destaca que as vendas estão a acontecer no Porto e Norte, mas também no Algarve, onde os compradores neste segmento são sobretudo britânicos.
Como decorreu a atividade nos primeiros meses de pandemia?
Não houve mercado, porque não houve viagens. As visitas aos imóveis estavam vedadas por razões sanitárias. Não é verdade que as casas se vendam com a mesma facilidade quando as pessoas não conseguem visitá-las. Apesar de haver pessoas que acham que através do Whatsapp ou do IFface as coisas continuam a ter a mesma fluidez, a verdade é que não é assim.

Nos últimos meses de 2020 o mercado mostrou uma dinâmica semelhante ao período da pré-pandemia?
No segmento do mercado de luxo, onde atuamos, posso dizer que conseguimos encerrar o ano de 2020 com um acréscimo de 10% de volume de vendas. Este ano, já estamos acima disso.

A perceção que temos é que houve uma alteração na procura, privilegiando-se espaços mais amplos, jardins?
No segmento alto, quem queria um apartamento de luxo, já o queria com boas varandas, com boas vistas, já procurava uma penthouse com piscina. Isso não mudou.

E a procura de casas nas regiões do interior do país?
Houve realmente um aumento da procura, quase como uma sede de liberdade, de contemplação. Mas, se fosse tanto assim, o interior do país teria parte dos seus problemas resolvidos.

A Luximos Christie’s trabalha o mercado do Algarve. Como está a decorrer a atividade?
O Algarve está a passar um péssimo momento a nível turístico. Há imenso desemprego, ainda que seja bastante difícil recrutar pessoas. No entanto, surpreendentemente, fechámos 2020 com níveis de venda superiores a 2019. E este ano já ultrapassámos os valores de 2020.

Quem são os clientes?
São 99% estrangeiros. Há uma coisa muito interessante no Algarve, tem uma população de estrangeiros residente. Ainda que muitos deles não conseguissem vir para Portugal, para fazer as suas visitas, os que estavam cá, e que constituem já uma comunidade interessante, continuaram ativamente a fazer negócios. No Algarve, 70% dos compradores de segmento alto são britânicos.

E no Porto quem são os clientes do segmento alto?
No Porto, metade são estrangeiros e metade são portugueses. Há alguns clientes franceses que se enquadram no nosso segmento, mas a maior parte não ultrapassa os 400 mil euros de investimento.
Eu tenho um critério para mim próprio. Portugal não é Nova Iorque, onde é considerado luxo a partir de cinco milhões de dólares. O meu critério é os 5% de imóveis de valores mais elevados que estão à venda. Portanto, de forma simplista, no Porto consideramos o segmento alto a partir dos 450 mil euros. No Algarve, dos 650 mil euros.

Havia a convicção de que com a pandemia os preços da habitação iriam cair, o que não aconteceu. Como explica isso?
Temos que olhar para isto tudo de forma agregada: o custo das matérias-primas e da mão de obra disparou. Durante a pandemia, e mesmo agora, está-se a assistir ao reflexo disso mesmo.
Se falarmos em construção nova, podemos perceber que madeiras, betão, alumínios, tubos, tudo isso aumentou exponencialmente. E aumentou por várias razões.
Por outro lado, a mão de obra tem um peso imenso na construção. Isto tudo implica uma inflação no preço final. Mas o impacto nem sequer está a ser proporcional, porque muitas matérias-primas aumentaram 35% e os preços das casas aumentaram de forma marginal.

Vai sentir-se o impacto das moratórias nos preços, sobretudo no imobiliário usado?
As moratórias foram um recurso interessante. Os bancos fizeram o que tinham a fazer, facilitou-se o processo, mas as pessoas vão acabar por pagar isto tudo. Isto foi um adiamento. O tal imobilismo transitou para a parte financeira. As famílias e as empresas tiveram uma almofada, um certo conforto.

A instabilidade legislativa, visível por exemplo no programa dos Golden Visa, é uma prática muito nefasta para o imobiliário?
Sim. Ninguém reage bem a um clima de incerteza. Quem vai investir, quer segurança. Se as coisas começam a mudar muito, as pessoas não investem. E existem outros países fantásticos. Portugal é aquele de que eu mais gosto, mas a verdade é que existem alternativas.
Já perdemos clientes de várias nacionalidades para Espanha. A instabilidade é sempre péssima. Querem acabar com o Golden Visa num mercado atacado pela pandemia? O Golden Visa existe em vários países, nomeadamente em Londres.
Às vezes, o simples facto de não acompanharmos as mesmas regras coloca-nos numa situação não de indiferença, mas de desvantagem competitiva. E é isso que está a acontecer.
ELISABETE SOARES (elisabetesoares@vidaeconomica.pt), 02/09/2021
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