O apelido Soares dos Santos é sobejamente conhecido em Portugal;

O apelido Soares dos Santos é sobejamente conhecido em Portugal
O apelido Soares dos Santos é sobejamente conhecido em Portugal. Alexandre Soares dos Santos, o grande promotor e transformador do grupo empresarial Jerónimo Martins num portento multinacional de grande relevância na área da grande distribuição alimentar, deixou também a Portugal, ao falecer há 3 anos atrás, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, uma extraordinária  organização cuja missão, segundo a vontade do fundador, é a de “promover e aprofundar o conhecimento da realidade portuguesa, procurando desse modo contribuir para o desenvolvimento da sociedade, o reforço dos direitos dos cidadãos, e a melhoria das instituições públicas.” 
A Fundação tem cumprido meticulosamente a sua missão, pelo menos na vertente em que não depende de mais ninguém para o fazer. A Fundação Francisco Manuel dos Santos é hoje uma das instituições mais respeitadas no nosso país, e a fonte de informação mais reputada, séria e credível à qual se recorre quando se precisa de saber informação sobre a nossa economia, a sociedade e o país. 
Publica também uma coleção de livros com temas variados de grande relevância para o nosso futuro, e ninguém pode hoje dizer que não tem dinheiro para comprar livros, pois os que a Fundação publica são literalmente “ao preço da chuva”.
Infelizmente “it takes 2 for Tango”, ou seja, para bailar o Tango são precisos dois comparsas dispostos a fazê-lo. E a Fundação Francisco Manuel dos Santos tem encontrado dificuldades sérias em encontrar parceiros dispostos a bailar o Tango quer entre os cidadãos (na vertente “reforço dos direitos dos cidadãos”), quer entre as instituições públicas  (na vertente “melhoria das instituições públicas”), para poder cumprir cabalmente duas das 3 componentes da sua nobre e louvável missão…
Para se poder “reforçar os direitos dos cidadãos” é preciso primeiro que os cidadãos o mereçam. Para tal é preciso que estejam dispostos a lutar pessoalmente para contribuir para lograr esse objetivo. Conquistar direitos, sem ser à maneira do PC e do BE, que só falam dos “adquiridos” como se fossem atribuídos por obra e graça do Espírito Santo (o de lá de cima, não o de cá de baixo, que esse já devia estar com direitos sim, mas na prisão) requer muita “sweat equity”, muito trabalho, muito suor, assim como ter consciência plena de que, em harmonioso equilíbrio com os direitos, há também responsabilidades a honrar. A malta cá do burgo gosta muito dos direitos adquiridos, mas que não a chateiem lá com essa maçada das responsabilidades, e de ter que lutar com denodo para garantir que se conseguem os direitos pela via legítima da conquista pelo trabalho árduo e pelo mérito.
Quanto à parte da missão da Fundação onde se anuncia a “melhoria das instituições públicas”, é um exercício total utópico de “wishful thinking“ de Alexandre Soares dos Santos, porque o Estado é, em Portugal, sem apelo nem agravo, omnipresente, omnipotente e omnisciente, e portanto autista. Não aprende com ninguém, infelizmente nem sequer com os próprios erros. E por isso ninguém deveria sequer ter o atrevimento de declarar publicamente como objetivo ou missão a “melhoria da instituições públicas”, porque o corporativismo estatal imediatamente atua como a amêijoa ou a ostra onde entra uma irritante areia na “engrenagem” : a concha fecha-se imediatamente para se proteger da intervenção externa… 
O Estado só abre os braços aos conselhos de “melhoria” de alguém externo quando algum vivaço, como o “empresário” que quis vender um Centro Empresarial transfronteiriço à Câmara de Caminha, ensina aos governantes, nas autarquias ou no Governo da Nação, como se podem fazer negociatas que sejam um “win-win” chorudo para todos. Para todos ? Bom, para todos menos para o mexilhão (tuga contribuinte)!
Esta irritante, custosa e nefasta característica autista do nosso Estado, by the way, vigora seja qual for a solução governativa à frente dos destinos da Nação, ou seja, não é uma prerrogativa da esquerda ou da direita. No tocante ao exercício do poder, o Governo da Nação (ou da autarquia) é visceralmente absolutista, “L’état c’est moi”, tal como dizia o Rei-Sol Luís XIV. Em Portugal vai-se para a política, disposto a ganhar menos do que a trabalhar honestamente na iniciativa privada, para se servir, não para servir. Poucos são os que o fazem por vocação, e eu tenho o privilégio de conhecer alguns.
E acabou, mais nada ! Que ninguém chateie o setor público com propostas de melhoria, que eles lá sabem nacionalizar, gerir e privatizar a TAP, privatizar a Efacec ou a Dielmar, escolher num espaço historicamente irrelevante (o que é mesmo meio século para uma decisão sobre a localização de um novo aeroporto num país com 900 anos de existência, e que tem o tamanho de uma caixa de fósforos…), nacionalizar bancos indicando aos crédulos e ignaros tugas (somos cornos mansos, nas palavras da esquerdista reconvertida Joana Amaral Dias) que o processo será neutral em termos de impacto para os contribuintes, para logo os vender ao desbarato, ficando os novos acionistas com a parte sã da podridão inenarrável que era o banco antes de o Estado lá entrar, e o Estado (nós os contribuintes…) com o lixo e os prejuízos daí resultantes… 
A limpeza das generosas pilhas de esterco gerada por BES, BANIF, BPN e outros menores que por aí andaram já vai nos 20 mil ou mais milhões de euros. Pagos por nós, com o suor do nosso rosto entregue via impostos ao Estado, na esperança de que respeitem o dinheiro que lhes confiamos. Pois sim…
O facto de a Fundação Francisco Manuel dos Santos ter colocado dois axiomas basicamente impossíveis de cumprir na sua missão de entrega genuína, honesta, total à sociedade portuguesa, não belisca no mais mínimo o seu incalculável valor para o país, ficando aqui o meu tributo e agradecimento pessoal a Alexandre Soares dos Santos por nos ter deixado esta magnífica instituição em herança, contrariamente a tantas outras “Fundações”, como a de Joe Berardo, que o Estado deixou criar para que a pessoa em causa pudesse fugir a responsabilidades tributárias, e proteger património pessoal da voragem do fisco … 
Mas Alexandre Soares dos Santos fez mais. Contrariamente ao falhanço de tantos outros empresários de sucesso, que não deixam herdeiros dignos de registo com as características vulgarmente associadas ao patriarca (quase sempre, no todo ou em parte, visão, grandeza, humildade, desprendimento, transparência, frontalidade, capacidade de liderança e humanismo), Alexandre Soares dos Santos deixou um herdeiro bem preparado ao leme do grupo, Pedro Soares dos Santos (PSS). Aparentemente mais discreto do que o pai, pois só agora, ao fim de 3 anos, li pela primeira vez uma entrevista dele desde que assumiu as rédeas do Grupo Jerónimo Martins. Foi num dos últimos números do Expresso (início de Dezembro de 2022) e gostei do que vi / li.
PSS fala com transparência, humildade e genuína preocupação social sobre o que está a acontecer em termos sociais e económicos em Portugal. Quebra de consumo acentuada, população envelhecida e carenciada, número crescente de portugueses a viver sozinhos, país que não cresce (e tem estado mesmo a regredir lentamente), não pela guerra, que acelerou o processo apenas, mas por estarmos em crise permanente desde que entramos no Euro há mais de 20 anos… E mostra claramente que a Jerónimo Martins tem um Presidente / CEO atento, que sabe ler bem o entorno, e está a preparar a organização (um dos maiores empregadores em Portugal, na Polónia e na Colômbia) estrategicamente para se posicionar para o futuro.
Deu-me imenso prazer ler a entrevista e ver que em Portugal há empresários e gestores com verdadeira dimensão e visão internacional, e que podem (e vão) dar cartas em muitos outros mercados para onde certamente a Jerónimo Martins se irá expandir. Até porque precisam de um equilíbrio sustentável em termos de “revenue stream”, que o nosso mercado, fruto da incompetência governativa de quase todos os que nos governaram nas últimas décadas, não consegue garantir no futuro.
José António de Sousa Economista, Gestor e Investidor, 06/01/2023
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