“Não podemos crescer apenas 1,5% ao ano”;

António Saraiva, presidente da CIP, no ICPT
“Não podemos crescer apenas 1,5% ao ano”
Na receita para o crescimento António Saraiva insiste na carga do esforço fiscal que é “19% acima da média europeia”, afirma António Saraiva.
“Portugal precisou de duas décadas para conseguir o crescimento que conseguia em apenas um ano há meio século”. Esta foi uma das conclusões lapidares de António Saraiva, presidente da CIP proferidas durante o mais recente almoço-debate do International Club of Portugal – ICPT.
 
Acrescenta o gestor que o país não pode ambicionar crescer apenas 1,5% ao ano, quando, em 1962, o crescimento do Produto foi da ordem dos 10,5%; em 1987 situou-se nos 7,6%; e nos anos 90 nos 7,9%, para depois crescer apenas 10,2% entre 2000 e 2018. “Não podemos ser tão poucochinhos a crescer com estes valores”, afirmou. Rematou que o país tem de colocar uma nova meta como ambição. 
Na receita para o crescimento António Saraiva insiste na carga do esforço fiscal que é “19% acima da média europeia”, e espanta-se porque os políticos não recuperam o esforço de redução do IRC, sendo este “o melhor amigo do investimento”. Diz que o país continua sem política fiscal “previsível”, a par de uma má justiça económica. Por outro lado, é necessário “apostar seriamente na qualificação e requalificação dos recursos humanos. Relembra um estudo da McKenzie/CIP sobre o futuro do trabalho e onde se conclui que haverá alterações profundas a nível de postos de trabalho, com alguns a desaparecerem e outros a serem criados. Outro tema forte para recuperar a competitividade da economia estará uma revisão dos custos energéticos. “A energia em Portugal não é competitiva”, afirma. Por outro lado, há que “agilizar licenciamentos”.
Estes são alguns dos desafios que é necessário implementar para colocar o país a crescer acima dos 3%.
Sobre as exportações, afirma que é necessário que se aumente o esforço de vendas para países de maior crescimento e deu o exemplo da Holanda, que entrou em mercados de cadeia de valor. Em simultâneo, é necessário promover a inovação e estimular e garantir a coesão social. 
Um tema de fundo e que fará com que a economia cresça – ou não – é a natalidade. A expetativa dos analistas é que, em 2060, a população portuguesa seja em número o mesmo que era em 1960, isto significa população envelhecida e um índice de natalidade baixo. 
 
Desafio: reduzir a dívida pública a 100% do PIB a cinco anos
 
Por outro lado, desafia os políticos a reduzirem a dívida pública a 100% do PIB a cinco anos, a par do desenvolvimento de uma política industrial para o século XXI, com enfoque na robótica, na eficiência dos portos e na logística integrada. Diz que “nenhum país pode depender apenas de um setor de atividade”, uma crítica implícita ao excessivo peso que a indústria do turismo tem vindo a assumir, em detrimento de outras atividades.
Sobre a política e os políticos, António Saraiva diz ser necessária a melhoria da qualidade dos decisores políticos “que se fecharam sobre si próprios. Devem pensar não nas próximas eleições mas nas próximas gerações”. Por outo lado aquilo que tem sido feito na economia fica a dever-se “às empresas”. Afirma que os empresários “devem ser reconhecidos” por isso. E acrescenta que, com “uma oposição fragilizada, cabe à sociedade civil o papel de exigência, intervindo”. Relembra que do lado das empresas “o seu capital reputacional e uma atuação nos negócios com ética, moral e transparência” é o seu melhor ativo.
António Saraiva começou por relembrar neste debate do ICPT que o “mundo encerra desafios e tensões com o multilateralismo em causa”. Os problemas vão desde os fluxos de migrações com o vislumbre que lhes é dado pelas redes sociais de determinados paraísos geográficos até à falta de liderança europeia, crise de valores e o retrocesso no projeto europeu, com a desagregação provocada pelo “Brexit”, ou ainda as pressões em Itália, Hungria e Polónia. Em Portugal as eleições europeias foram “um espetáculo preocupante”, com 17 opções de escolha e apenas 23% dos eleitores a votarem num partido, pois os restantes foram as abstenções, os nulos e os brancos. A conclusão que tira é que “os partidos políticos fecharam-se e deixaram de ser o motor da sociedade”. 
Susana Almeida, 20/06/2019
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