Empresas apostam cada vez mais na inteligência emocional;

Paulo Moreira, fundador da marca “Treino Inteligência Emocional”, afirma
Empresas apostam cada vez mais na inteligência emocional
“Se formos capazes de identificar e regular os nossos estados emocionais de forma mais benéfica e adaptativa, teremos uma vantagem a nível pessoal e profissional”, afirma Paulo Moreira.
“As empresas que apostam no desenvolvimento da sua inteligência emocional tornam-se mais competitivas e produtivas”, afirma Paulo Moreira, fundador da marca “Treino Inteligência Emocional”.
 “Uma cultura que promova um maior bem-estar psicológico aumentará a retenção de talento da empresa”, acrescenta.
“Devemos investir algum tempo em entender e gerir melhor as nossas emoções, para que as possamos também utilizar a nosso favor e não apenas a obedecer-lhes sem nos apercebermos”, conclui.
Vida Económica – O que é inteligência emocional?
Paulo Moreira - A inteligência emocional pode ser definida de várias formas, mas uma das definições mais utilizadas é a capacidade de reconhecer, entender e gerir as nossas emoções, bem com a capacidade de reconhecer, entender e influenciar as emoções das outras pessoas.
 
VE – Quais são as suas principais caraterísticas?
PM - Segundo o modelo de Daniel Goleman, podemos dividir a Inteligência Emocional em quatro categorias: i) Autoconsciência: a capacidade de reconhecermos e entendermos os nossos estados emocionais; ii) Regulação Emocional: a capacidade de regular os nossos estados emocionais; iii) Consciência Social: a capacidade de identificar pistas sociais no meio à nossa volta; iv) Relacionamentos Interpessoais: a capacidade de criarmos relações saudáveis e adaptarmo-nos ao meio à nossa volta.
 
VE – O “controlo” das emoções e sentimentos pode levar ao sucesso pessoal e profissional?
PM - As nossas emoções impactam diretamente a nossa perceção, tomada de decisão e resultados que obtemos no nosso dia  a dia. Por isso, sim, se formos capazes de identificar e regular os nossos estados emocionais de forma mais benéfica e adaptativa, teremos uma vantagem a nível pessoal e profissional. Por exemplo, os psicólogos organizacionais Cary Cherniss e Robert Caplan revelaram que o ensino de competências de consciência emocional a consultores financeiros da American Express Financial Advisors, em que aprenderam a identificar as suas próprias reações emocionais em situações de desafio e a ficarem mais conscientes das suas conversas interiores improdutivas, resultou num aumento de receitas por consultor. A consciência emocional que desenvolveram permitiu-lhes usar estratégias para lidar com os problemas de forma mais produtiva, aumentando a eficácia no seu trabalho.
 
VE – Considera que a inteligência emocional é mais importante do que a inteligência mental? Porquê?
PM - O conceito de “inteligência” tem sido estudado há largas décadas, e vários autores têm várias definições para este conceito. Não existe um único tipo de inteligência e nem existe, na minha ótica, uma inteligência melhor que outra. A nossa inteligência “cognitiva”, tipicamente mais ligada a operações lógico-matemáticas e a aptidões verbais e abstratas, tem um peso muito importante em algumas áreas da nossa vida. No entanto, a inteligência emocional tem um peso muito forte de forma transversal, sendo que, se esta for baixa, mesmo que tenhamos uma inteligência “cognitiva” mais desenvolvida, seremos mais facilmente alvo de sequestros emocionais, teremos mais dificuldade em lidar com adversidades e possuiremos pouca capacidade em criar e manter relacionamentos interpessoais. Então, para mim, não se trata tanto de uma comparação, pois a base de comparação não é a mesma, mas considero que a inteligência emocional é determinante para uma vida mais saudável e realizada.
 
“Ainda existe um grande trabalho pela frente”
 
VE – As empresas e os empresários portugueses estão familiarizados com o conceito da inteligência emocional?
PM - Felizmente, verifico que cada vez mais tem sido dada importância e relevância a este conceito no tecido empresarial português. Trabalho com empresas que apostam cada vez mais na formação destas competências, e outras que já incluem fases de recrutamento para tentar fazer uma medição das competências socioemocionais dos seus candidatos. Mas ainda existe um grande trabalho pela frente, pois este conceito parece ainda estar mais numa fase de descoberta por muitas empresas e apenas como forma de formação complementar. Ou seja, poucas empresas estão ainda conscientes da potencialidade em investir, de forma continuada, na formação em inteligência emocional para os seus líderes e colaboradores. Atualmente, as formações passam mais por intervenções únicas, muitas sob a forma de pequenos workshops.
VE – Pode a inteligência emocional contribuir para o aumento da competitividade empresarial das PME?
PM - Sim. As empresas que apostam no desenvolvimento da sua inteligência emocional tornam-se mais competitivas e produtivas. Já existe alguma literatura sobre essa relação, que tem vindo a gerar mais consciência na importância do desenvolvimento deste tema. Por exemplo, na “Harvard Business Review” surgiu pela primeira vez o tema “inteligência emocional coletiva”, que consiste no modo como os membros de equipas emocionalmente inteligentes respondem construtivamente a situações desconfortáveis: se influenciam de forma positiva, atingem melhores resultados e experienciam maior satisfação em trabalhar uns com os outros. As equipas que se conseguem gerir desta forma são muito mais produtivas do que aquelas que não conseguem.
 
VE – Uma das principais dificuldades das empresas é criar e reter o talento. Acha que a inteligência emocional pode contribuir para melhorar essa situação?
PM - Se considerarmos alguns dos motivos fortes que levam as empresas a perderem talento, conseguimos ver a mais-valia no desenvolvimento de uma cultura emocional inteligente. Muitas empresas perdem colaboradores talentosos por má gestão de expetativas, falta de reconhecimento (não só monetário, mas em termos de respeito pelo seu trabalho), pouca visão de futuro, má liderança, mau ambiente de trabalho e injustiças no dia a dia, entre outros motivos. Uma cultura que promova um maior bem-estar psicológico, onde os colaboradores ganhem ferramentas para lidar melhor com o stress e adversidades, onde aprendem o impacto que o seu comportamento tem nos outros, onde fomentam um bom ambiente de equipa e as necessidades são tidas em conta, aumentará a retenção de talento da empresa.
 
Livro com abordagem prática 
 
VE – É autor do livro “Inteligência Emocional - uma abordagem prática”. A quem recomendaria a sua leitura?
PM - Este tema é de uma mais-valia transversal, pelo que decidi escrever um livro onde abordo temas e dou exemplos que se ligam quer à vida pessoal, quer à vida profissional. São abordadas 54 técnicas, simples e de fácil implementação, que o leitor pode utilizar para desenvolver a sua inteligência emocional. Em todas as técnicas conto também uma história de duas personagens fictícias, o Pedro e o João, onde vemos o que acontece quando aplicamos ou não essa técnica.
 
VE - Que mensagem gostaria de transmitir?
PM - Um grande pintor que se chamava Vincent van Gogh disse a seguinte frase: “Não vamos esquecer que as emoções são os grandes capitães das nossas vidas, nós obedecemos-lhes sem nos apercebermos”. No dia a dia, pensamos que todas as nossas decisões são feitas com base em lógica e de forma ponderada. Mas esta é uma ideia errada, pois estamos sempre a ser afetados por estímulos à nossa volta e pelas nossas emoções. A inteligência emocional pode ajudar-nos a ganhar maior consciência do impacto das emoções na nossa perceção, e com isso conseguir tomar melhores decisões para nós e para os outros. A mensagem final é que devemos investir algum tempo em entender e gerir melhor as nossas emoções, para que as possamos também utilizar a nosso favor e não apenas a obedecer-lhes sem nos apercebermos.
 
Susana Almeida, 16/05/2019
Partilhar
Comentários 0