“Mercado automóvel nacional irá cair 45% este ano”;

Sérgio Ribeiro (Hyundai Portugal) perspetiva vendas de todas as marcas
“Mercado automóvel nacional irá cair 45% este ano”
Depois de ter caído mais de 80% em abril devido ao impacto da pandemia de Covid-19, o mercado automóvel português terá um cenário menos negativo ao longo dos próximos meses, mas não deixará de ser um ano muito mau para o setor. Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, prevê que as vendas totais de automóveis em Portugal caiam 45% este ano e que a recuperação não chegue antes do fim de 2022.
O mercado automóvel nacional vai cair bastante este ano devido ao impacto da pandemia de Covid-19. “Nós temos de ser otimistas, mas realistas. Estamos a passar uma crise muito grande no setor. A nossa previsão é que o mercado irá cair cerca de 45% este ano e só no final de 2022 ou início de 2023 é que teremos um ritmo normal face ao que tínhamos antes da pandemia”, referiu Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, num webinar promovido pela plataforma de classificados de automóveis Stand Virtual e pela Associação  Automóvel de Portugal (ACAP) com representantes de várias marcas automóveis.

O cenário para já é ainda mais negro. O secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, fez saber que a queda do mercado foi, nos 10 primeiros dias úteis de maio, de 71%. “Não era a reabertura numa primeira fase que iria ditar uma corrida aos concessionários, mas ainda assim a quebra foi inferior a abril”, indica. Em abril, a descida, recorde-se, rondou 85%. “Era importante reabrir o setor, os concessionários e os stands”, referiu Hélder Pedro, antes de explicar que “Portugal foi o sétimo país com maior quebra de mercado da UE em abril, de acordo com os dados da ACEA”.

Em relação aos preços, de novos e também de usados, não é forçoso que esta crise leve a uma baixa de preços, de acordo com o diretor-geral da Kia Portugal, João Seabra. “Não tem de haver baixa da preços. Quem teve dinheiro para comprar carros agora, vai ganhar dinheiro, porque no fim do ano vão faltar carros usados. Porque as rent-a-car não fazem o ‘defleet’, nós não entregamos carros novos e a procura de melhores oportunidades de usados vai aparecer. Numa primeira fase poderá haver uma procura para carros um pouco mais baratos e os seminovos e usados podem ser uma primeira opção de muita gente nesta primeira fase, o que levará a alguma falta de usados, o que pode fazer com que o valor de transação dos carros possa voltar a subir”, indica João Seabra.

Distribuição automóvel vai mudar muito

Pedro Almeida, administrador da SIVA, acredita que “a distribuição automóvel será mais diferente daqui por 10 anos em relação a hoje do que aquilo que é hoje em relação ao que era há 100 anos”. O executivo considera que “a distribuição automóvel mudou pouco, o produto evoluiu muito, mas o modelo de distribuição de haver stands e vendedores à espera que os clientes entrem, mudou pouco”.

O administrador da SIVA não consegue prever com exatidão como será a distribuição no futuro, mas acredita que “haverá uma cada vez maior componente digital”, mas que haverá  “pontos de contacto físico com o cliente e a capilaridade através de uma rede de retalho continuará a ser necessária”.

A racionalidade é um ponto defendido por Pablo Puey, diretor de operações do grupo PSA em Portugal. “No grupo PSA achamos que o multimarquismo faz sentido. Evidentemente que nosso caso defendemos isso com marcas do nosso grupo. O setor tem sido pragmático. Antes pensávamos que um concessionários tinha de ser uma catedral com muitos carros, muita diversidade e muito stock. A crise permite, também, repensar os modelos de negócios. Há pouco tempo, ninguém imaginava o teletrabalho e que iríamos ter 11 ou 12 teleconferências por dia e podermos estar a trabalhar em casa com a mesma eficácia, ou fazermos vendas online, entrega de carros ao domicílio, etc”, considera o executivo.

Este misto entre online e físico é, também, a visão de Sérgio Ribeiro. “Não somos fundamentalistas do online, também não somos fundamentalistas do offline. O que acreditamos é que a sintonia entre os dois mundos tem de existir cada vez mais e esta crise veio apressar todos estes investimentos, mas há que calibrar todos os intervenientes no negócio”, indica.
Aquiles Pinto, 27/05/2020
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